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Top 10: Filmes realizados por Michael Haneke



Já se passaram quatros anos desde a estreia de “Happy End” e, até agora, o realizador Michael Haneke, conhecido por manter uma faceta mais resguardada dos media, não mostrou quaisquer sinais de querer realizar um novo filme. O realizador austríaco mostrou as suas capacidades como cineasta de uma forma tardia, tendo o seu primeiro filme estreado em 1989, quando Haneke tinha já 47 anos de idade, porém, isso não o impediu de criar uma impressionante coleção de filmes provocadores, que magoam a nossa psique ao revés dos nossos olhos e que nos obrigam a venturar pelo lado mais negro da alma humana. Enquanto não há notícias relativas aos planos futuros de Michael Haneke (se é que ele os tem), o melhor é olhar para a sua obra, e mergulhar em questões fundamentais que mais perguntas levantam do que as respostas que encontramos.

Segue uma seleção daqueles que considero os seus 10 melhores filmes:


10. “O Tempo do Lobo” (2003)

Os filmes pós-apocalípticos estão associados a grandioso desejo em ver o mundo arrasado, o acontecimento que levou à destruição da civilização, e a forma como a humanidade luta para sobreviver a esta nova realidade. Michael Haneke não gosta disso, e não nos diz o porquê de as coisas estarem como estão. Sabemos apenas que água potável é um recurso escasso e que todo o tipo de gado teve de ser queimado. Também não está interessado na espetacular capacidade de sobrevivência e de luta contra as adversidades. Tal como os seus outros filmes, ele explora a crueldade humana, e como a vontade em sobreviver rapidamente domina a psique daqueles que se são apenas mais uma pessoa completamente perdida quando se viram a existir num mundo irreconhecível e dominado por uma sede por violência.


9. “71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso” (1994)

Mais um críptico filme que funciona como um puzzle com várias peças, os ditos fragmentos, que vão construindo uma narrativa que nos permite perceber o que leva à ocorrência de ações que até então pareciam completamente impensáveis. Inicia com uma descrição de um crime violento e depois vamos acedendo aos vários fragmentos que o compuseram. Uma narrativa não-linear e completamente fraturada que culmina com a destruição da humanidade.


8. “Benny’s Video” (1992)

As crianças são o tesouro do mundo, não são? Haneke discorda e diz-nos que a maldade pode brotar em qualquer local se assim o permitirmos. Numa altura em que as câmaras de vídeo eram a moda, Benny é um jovem miúdo que começa a perder a perceção da realidade e filma os eventos que ocorrem à sua volta, em vez de os viver. Ela habita numa boa casa, e nada lhe falta, tem bons pais que sempre o trataram bem, apesar de nem sempre presentes e, no entanto, Benny é diferente. À medida que a mente do miúdo se vai distorcendo, homicídios passam a ser algumas das novas sequências que ele filma e os eventos complicam-se.


7. “O Sétimo Continente” (1989)

Poder-se-á dizer que Haneke irrompeu explosivamente nos bastidores do cinema mundial. Desde o seu primeiro filme que a sua forma provocadora e inigualável de presentear temas em norma desconfortáveis captou a atenção das audiências e cineastas pelos vários cantos da terra. Em “O Sétimo Continente”, assistimos às mundanas rotinas de uma família que em tudo são iguais a todas as outras famílias urbanas que conhecemos. Não fazem nada de particularmente espetacular nem diferente do normal. Daí que o resultado final seja completamente bizarro, no entanto, foi uma notícia real que Haneke leu num jornal que o inspirou a realizar este filme. Uma estreia brilhante para uma carreira em ascensão.


6. “Código Desconhecido” (2000)

Um acontecimento breve e inesperado leva-nos a conhecer várias pessoas sem qualquer relação umas com as outras. Um rapaz atira um pedaço de lixo a uma pedinte romena. Outro, filho de imigrantes malianos, testemunha esta ação e decide confrontá-lo. Entretanto, a uma mulher, cujo namorado é irmão do rapaz que humilhou esta mulher vê o que se passa e decide intervir. Estes quatro acabam por ser levados para uma esquadra, pela polícia. Seguidamente, vemos episódios passados e futuros destas várias personagens. Tal como o título inicial sugere, trata-se de histórias incompletas, que não oferecem qualquer resolução à forma como percecionamos estes eventos. Porém, leva-nos a uma profunda reflexão sobre temas como raça, religião, desigualdades sociais, incompreensão, entre outros. De notar que quando o título original nos diz que se tratam de histórias incompletas, de uma brincadeira não se trata, todas as cenas que vemos vêm de takes longos que foram cortados precisamente para não permitir ao público perceber mais do que aquilo que Haneke pretendia.


5. “Amor” (2012)

O mais reconhecível de todos os títulos de Michael Haneke e que mais prémios e nomeações arrecadou, dando-lhe a sua segunda Palma de Ouro do Festival de Cannes, o Óscar de Melhor filme Estrangeiro, e mais três nomeações aos óscares, o BAFTA de Melhor Filme em Língua não inglesa, entre outras vitórias em competições de grande prestígio. Um casal de octogenários vê a sua vida a mudar tragicamente Anne sofre de um AVC que a deixa severamente debilitada, testando a sua relação de longa data com Georges. Um filme lento, maioritariamente silencioso que nos obriga a questionar o verdadeiro significado da palavra “amor”.


4. “A Pianista” (2001)

Um dos mais perturbadores filmes de Michael Haneke, e ainda assim, um dos seus filmes que mais realista é. Uma história erótica e perversa sobre uma professora de piano que inicia uma relação sadomasoquista com um dos seus alunos. Erika Kohut não é a típica mulher que imaginamos como pianista. Apesar de já não ser uma mulher jovem, ainda vive com a sua mãe num estado reprimida e quase infantil em que a figura maternal é imensamente dominante, algo que a levou a perseguir a sexualidade de uma incomum, manifestando imensas parafilias. Severa na forma como aborda a música, e incompreensível na maneira como se relaciona com os outros, esta mulher é o tipo protagonista que normalmente não vemos no cinema. A história é imprevisível e sem dúvida que inesquecível.


3. “Brincadeiras Perigosas” (1997)

Um dos grandes medos que muita gente manifestará será o de alguém desconhecido e muito possivelmente violente a entrar na nossa casa e começar a fazer dela e de nós mesmos o que bem lhe apetece. Preparados para enfrentar os medos? Uma família vai para a sua casa de férias em Áustria, e dois homens que desconhecem, mas que são bastante simpáticos e cordeias, começam a forçar a sua estadia na casa da pobre família. Rapidamente, o que parecia ser uns agradáveis minutos com dois bons homens, acaba por se tornar no maior pesadelo possível. Eles começam a forçar a família a entrar em jogos sem qualquer moral e completamente distorcidos, no qual o respeito pela vida humana se torna num simples mito.


2. “Nada a Esconder” (2004)

Um dos mais difíceis filmes de decifrar de Michael Haneke. A passividade visual é uma atitude repreensível se se quiser abordar este filme. Tal como o título parece indicar, nada está escondido neste filme. Isso não quer dizer, porém, que é fácil de perceber onde estão as peças que procuramos. Um casal de classe média-alta francesa, recebe estranhas cassetes anónimas, na varanda da sua casa. Estas mostram que eles estão a ser vigiados e a paranoia vai-se instaurando. Quem estará a fazer isto? Porque o faz? São algumas das questões de um filme que mais do que uma procura de um culpado é uma forma de explorar culpa e memória.


1. “O Laço Branco” (2009)

A primeira Palma de Ouro para Michael Haneke, no Festival de Cannes foi entregue em 2009, cortesia do seu aclamado filme “O Laço Branco”. Neste drama, tingindo com uma coloração a preto e branco de extrema beleza, Haneke explora as raízes dos males e como ele se vai incorporando em pequenas comunidades, acabando por chegar a proporções maiores. Talvez o mais assustador dos seus filmes.

Uma análise mais detalhada poder ser lida na Underscope no link: https://underscop3.wixsite.com/meusite/post/o-la%C3%A7o-branco-a-origem-do-mal

Manuel Fernandes

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