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Arrival: Marca pela Diferença



“Arrival” trata-se de um filme muito bem catalogado na categoria de ficção científica, e apesar de abordar uma invasão alienígena, não segue os padrões normais de longas metragens acerca desse tema, e nota-se essa diferença logo nos primeiros instantes. Portanto, preparam-se para serem surpreendidos dentro de uma temática que normalmente oferece os mesmos estereótipos. Antes demais, algo que podia prever um filme diferente dos demais, é a presença de Denis Villeneuve como realizador, que já nos habitou a grandes trabalhos como: Blade Runner 2049, Sicário e Raptadas. Outro fator que pode motivar à visualização deste filme é o fantástico elenco que oferece. Jeremy Renner, Forest Whitaker, Michael Stuhlbarg e Tzi Ma, juntam-se a Amy Adams na construção de um grande filme. Sem desfazer o trabalho dos atores, que de forma preponderante permitem o erguer da protagonista, vou dedicar umas palavras à principal estrela deste filme. Para quem está habituado a mergulhar nos filmes nomeados a óscares, principalmente deste século, certamente conhece Amy Adams, que já conta seis nomeações à estatueta dourada, cinco como melhor atriz secundária, e uma como principal. Embora não possua nenhum óscar (até ao momento), a palavra consistência tem de ser aplicada na descrição desta fantástica atriz. Já para não falar de outros filmes nos quais não foi nomeada, mas que ainda assim oferece fantásticas performances como: Catch Me If You Can, Nocturnal Animals, e este filme em análise. Já que mencionei a maior cerimónia de prémios, informo que “Arrival” foi nomeado a oito óscares, levando o prémio na categoria de Melhor Edição de Som, com três dessas nomeações nas categorias principais: Melhor Filme, Realizador e Argumento Adaptado.


Tal como disse no início, este filme distancia-se de outros do mesmo conteúdo logo pelos primeiros minutos. Nesses instantes temos acesso a uma obra de arte de fotografia quase poética, onde passamos a conhecer a Dr.ª Louise Banks (Amy Adams), e inclusivamente a sua filha. Com planos muito aproximados, contrariamente ao resto do filme, compreende-se que a sua filha faleceu numa idade muito jovem, e essa abordagem da câmara permite reforçar de maneira propositada o choque, a tristeza e o luto. Comparo este início aos primeiros cinco minutos do filme “Up” da Pixar, que garantem a total atenção do espectador, através da apresentação do protagonista da história num registo marcante e poderoso.


Posteriormente ao princípio arrebatador, somos transportados a uma altura em que Louise, professora de linguística, dá aulas numa universidade, e que por acaso o tema da aula é a língua portuguesa. Mas rapidamente a lição é interrompida com a chegada de 12 naves alienígenas que se espalharam por pontos distintos do planeta, que obviamente provocaram o pânico nas pessoas, e a instalação de um estado de alerta por todo o mundo. Uma das belezas deste filme é que nesta introdução vemos tudo pelos olhos da protagonista.


Um militar (Forest Whitaker) convida Louise para tentar desvendar a linguagem utilizada pelos alienígenas com os quais já entraram em contacto. No fundo, é este o desafio que Louise e o Dr. Ian Connely (Jeremy Renner) terão de superar ao longo do tempo de tela, o de comunicar com as estranhas figuras, que não vou descrever fisicamente para não matar a curiosidade de quem não viu o filme. Os humanos e os “visitantes” comunicam dentro da nave alienígena num espaço que possui uma divisória que se assemelha a um vidro. Os invasores comunicam através de uma espécie de hieróglifos circulares de cor preta que têm um propósito de ser, pois o fator tempo é essencial na mensagem do filme. A escolha desta forma de contacto marcada por uma divisória parece ser uma crítica à sociedade dos dias de hoje, que maioritariamente comunica através dos ecrãs de telemóveis e computadores, no sentido em que não existe uma comunicação tão marcado pelo contacto humano, e pela comunicação olhos nos olhos. A ideia interessante deste filme é que é necessário a aprendizagem de outra linguagem para que a comunicação se estabeleça, e que a nossa perceção sobre determinado aspeto pode mudar quando se percebe uma linguagem diferente, neste caso a dos seres estranhos. Não quero de todo fornecer spoilers, mas peço que tomem atenção aos “flashbacks” de Louise, que são vitais para a sua construção como personagem, e que estão interligados à sua compreensão daquela língua desconhecida.



Apesar de não ser o principal foco, o filme ainda é capaz de abordar reações humanas de forma global. Numa primeira instância, os militares colocam aquela premissa de usarem as suas armas de lado, esforçando-se para que haja uma forma de comunicação em primeiro lugar. Depois, os cientistas que tentam cumprir a missão de perceber o que é que aqueles seres pretendem com a Terra, com o uso de métodos estranhos na visão dos militares. E por último, o lado da população que vive com medo pela escassez de informações.


Um filme diferente dentro do mundo da ficção científica, em que os feitos visuais e a ação não são a prioridade, mas em que as questões humanas são a principal atração que Dennis Villeneuve quer oferecer ao espectador. Torna-se num trabalho que visa trabalhar o intelecto de quem o vê, através de um bombástico puzzle narrativo, conjugado com a delicadeza e sensibilidade da Amy Adams, e também com uma banda sonora poderosa e atmosférica. “Arrival” significa não só a chegada de seres desconhecidos, mas também a chegada de um fantástico filme repleto de uma originalidade inteligente.


Diogo Ribeiro

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