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Space Force: Umas Estrelas Ofuscam Outras


O sexto braço militar dos Estados Unidos é criado: as Forças Espaciais. Encarregado com a responsabilidade de proteger o espaço, bem como os astronautas e cientistas que lá avançam o conhecimento científico, a organização é liderada pelo general Mark Naird (Steve Carell). Com vista a voltar à Lua para começar uma colónia, Naird tem de lidar com um presidente temperamental, um cientista-chefe pacifista, um agente de relações públicas arrogante e a geral incompetência daqueles que o rodeiam, bem como lidar com os seus dramas familiares, tudo para provar que a Patrulha do Espaço tem mérito.


Space Force é a nova série de Greg Daniels para a Netflix. Uma comédia de trabalho, a obra apresenta a nova organização numa luz cómica, embora tem vários momentos mais solenes. Dá o sentimento de pessoas apenas a fazer o seu trabalho, a tentar lidar com a situação ridícula em que se encontram da melhor maneira possível. É uma mistura de ambição desmedida, compaixão e empatia que dão um certo charme à série.


Tem também um elenco de luxo. Com Steve Carell e John Malkovich nos papéis principais, os dois atores têm uma química incrível, com cada momento a ser hilariante e cativante. As personagens de Naird e Mallory são os dois pilares da organização, representantes das diferentes direcções que ela quer seguir: Mallory representa o foco no avanço científico, enquanto Naird mostra uma perspetiva de militarização e de defesa. Seria muito fácil transformar Naird num vilão por valorizar a perspetiva militarista, mas Space Force mostra frequentemente usos da nova agência, como defesas de satélite e a definição de áreas de pesquisa em objetos celestiais.


A série tem uma perspetiva diferente sobre a guerra e os militares. Não é que não sejam agressivos e militaristas, mas acabam frequentemente por ser as pessoas mais sensatas e normais de toda a história. Mas, para além das principais, as personagens não me cativam. Parece que falta algo. Quando Carell ou Malkovich estão no ecrã, qualquer personagem secundária funciona perfeitamente bem. O problema é que sem eles, a série não parece funcionar.

Um bom exemplo disto é a filha de Naird, Erin (Diana Silvers). É suposto termos pena dela, mas ela age de forma tão egoísta e estúpida que se torna impossível. A história de Erin não funciona se a história do pai também o torna simpatizante, e como Erin não interage muito com o resto do elenco de forma regular, ela torna-se uma distração para o resto da série.


Aliás, Space Force também tem um problema de tom. A ênfase em relações românticas para quase todas as personagens puxa foco dos problemas espaciais, que são muito mais interessantes narrativamente. Não digo que não devessem ter um foco na história, mas dez episódios são muito pouco tempo para estabelecer esse tipo de história. Talvez cortasse Erin da narrativa e resolvia duas coisas de uma só vez.


Space Force é uma boa tentativa. Tem um elenco de luxo que é relegado para papéis secundários, enquanto os atores do elenco principal, à exceção dos protagonistas, não conseguem carregar sozinhos. É inconstante no tom, sem saber se quer ser uma comédia de trabalho ou uma comédia romântica, mas mantém uma narrativa coerente. Há personagens inteiras que precisam de ser trabalhadas, porque da maneira que estão tornam a série toda pior.


A série tem de ser vista com estes factos em mente, porque senão ficarão dececionados. A primeira parte da temporada é melhor, com a inclusão de Fred Willard no seu último papel em vida. Se conseguirem ultrapassar estes factos, recomendo que vejam. Senão, revejam The Office (US).


Filipe Melo

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