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The Assassination of Gianni Versace: Ser Gay nos Anos 90


O ano é 1997. Gianni Versace, o famoso estilista de moda e criador de um império, é morto a tiro à porta da sua mansão em Miami Beach. O atirador é Andrew Cunanan, um homem gay com uma propensão para mentiras e gostos finos, que apenas os mais ricos podem usufruir. Cunanan já matou antes, e as pessoas andam à procura dele, mas é difícil encontrá-lo.


Assim estão reunidos os aspetos essenciais de The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story. Criada por Ryan Murphy, a minissérie não é puramente um documentário. Não se sabem muitos detalhes sobre o assassino em série, como os seus motivos, pensamentos, ou até metodologias, por isso Murphy usa o caso como um retrato da experiência homossexual dos anos 90, usando liberdades artísticas para criar uma narrativa coerente.


O que me leva à minha primeira crítica, relativa à linha temporal que nos é apresentada. A minissérie inverte a cronologia dos acontecimentos, começando na morte de Gianni Versace e acabando nas origens de Andrew Cunanan, para depois voltar para o assassinato do estilista outra vez. É algo confuso e desconcertante, e é possível perder a ordem dos acontecimentos, mas cria um efeito interessante em relação às suas vítimas. Ao vermos a morte primeiro, antes de sabermos as circunstâncias e os eventos anteriores, torna a morte deles mais amarga.


Por outro lado, o efeito da cronologia inversa acaba por pintar Cunanan como um jovem incompreendido, depois de alguns episódios a demonstrar os níveis de sociopatia dele. Não me convenceu, e deu a ideia de tentar justificar a morte de tantas pessoas. A relação de Cunanan com a mãe é um bom exemplo disso. Na obra, Cunanan adora a mãe, e qualquer rumor de abuso é mostrado como acidental. Na realidade, as agressões à mãe não foram consideradas acidentais, mas como um elemento dos problemas mentais do assassino.


Mas falando em aspetos bons agora, o elenco está de parabéns. A estrela é Darren Criss, que consegue reproduzir a frieza e a mente calculista de Cunanan na perfeição. Não sabia que era possível transmitir uma emoção com os olhos e outra com a boca, mas Criss consegue fazer ambos, mostrando com clareza a mente dissimulada do protangonista. É impressionante a maneira como ele consegue nos deixar desconfortáveis, como consegue transparecer às outras personagens que elas estão em sarilhos.


O principal propósito da série, da representação da experiência homossexual dos anos 90, está feita de maneira brilhante. Há uma dualidade curiosa entre o mundo normal e o mundo das celebridades. A facilidade de sair do armário quando se faz parte do mundo das celebridades é contrastado com as experiências mais comuns. A polícia repetidamente não leva a morte de vários homens gays a sério, o que permite a Cunanan escapar com os seus crimes. Mas, quando uma celebridade é morta, imediatamente levam a procura mais a sério. O efeito do poder do dinheiro e do estrelato é uma força motivadora para o protagonista, querendo o amor e aceitação que os mais poderosos tomam por garantido. Assim, Gianni acaba por ser a representação do mundo perfeito: ser gay não destruirá a sua reputação, e ele pode viver na ignorância do que o resto da comunidade passa.


The Assassination of Gianni Versace é uma análise profundamente interessante sobre as diferenças dentro da comunidade homossexual numa altura em que a aceitação ainda não era assegurada, e de como a experiência de sair do armário é simultaneamente universal e individual ao mesmo tempo. É uma tragédia de circunstâncias, em que todos são vítimas. Se todos merecem ser representados como vítimas é outra questão, mas sem a informação do que realmente aconteceu, apenas temos interpretações para nos guiar.


Filipe Melo

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