top of page
Foto do escritorunderscop3

The Great: A vida surreal na corte russa


Catherine (Elle Fanning) é uma jovem austríaca prometida ao Imperador Peter (Nicholas Hoult). Romântica e ingénua, Catherine pensa que ela terá um casamento completamente feliz e uma vida fascinante como rainha da Rússia, mas depois de ver e sofrer na pele as excentricidades violentas do seu novo marido, ela tem um novo plano: organizar um golpe de estado para matar Peter e assumir o trono.


Simples, não?


É esta a história de The Great, a minissérie que conta (com muitas liberdades artísticas) a ascensão ao poder de Catarina, a Grande, Imperatriz da Rússia. A narrativa decorre maioritariamente no palácio real e nos arredores, enquanto Catherine navega o complexo mundo político e social da corte russa, organizando e treinando para o golpe em segredo. Tony McNamara, escritor da série, mostra mais uma vez a capacidade de misturar o humor bizarro e surreal com o realismo e planeamento complexo associado a dramas de corte. Peter é um louco hilariante e infantil, inepto para governar, mas também é um monstro perigoso que ordena a morte de alguém por algo tão simples como não fazer a barba.


McNamara, aliás, é o mesmo escritor de The Favourite, o filme que deu a Olivia Colman o óscar de melhor atriz. Notam-se muito bem as semelhanças na escrita, desde o humor físico e grotesco, até às superficialidades da vida na corte. The Great na verdade tem o problema de se assemelhar demasiado a The Favourite: o tom, os visuais, até certas piadas são repetidas do filme para a série. É-me difícil distanciar as duas obras uma da outra, com tantas semelhanças.


Tanto a cinematografia como a banda sonora estão incríveis: os vastos planos do palácio, com caminhos secretos e ornamentados, os jardins onde as personagens passeiam e planeiam o próximo passo (outro elemento de The Favourite) e as elegantes cenas de festa cativam o olhar, tudo ao som de melodias com instrumentos com um sabor mais russo, por assim dizer. Tenho algumas saudades dos planos de olho-de-peixe do Yorgos Lanthimos, mas não é algo que a série precise.


Talvez a minha parte favorita seja o realismo do planeamento do golpe. Catherine tem de abordar todos os grupos sociais da corte, desde os diplomatas, aos militares, até às mulheres desses mesmos militares para ter apoio ao subir ao poder. Porém, dado que ela é estrangeira, ela também precisa de saber quais são realmente os problemas da Rússia, de que formas ela pode influenciar e direcionar o país para o caminho da salvação. Ela pode ter imensas ideias, mas sem apoio ou planos, mesmo que ela concretize o golpe, ela acabará por falhar. Tudo isto debaixo de um manto de subterfúgio e deceção, para evitar ser executada por traição.


Os atores fazem um papel fenomenal. O timing cómico e cheio de sarcasmo de Marial (Phoebe Fox), criada e confidente de Catherine enquanto ela planeia o golpe faz-me sempre rir, e a evolução de Orlo (Sacha Dawan) como personagem está muito bem representada. Nicholas Hoult, porém, é o meu favorito. É difícil tornar um monstro como Peter, o grande vilão da história, alguém por quem temos pena e queremos ver pelo menos feliz. O facto que a insensibilidade de Peter leva aos momentos mais marcantes da narrativa, tanto dramáticos como cómicos, ajuda.


O final da série deixou muito em aberto, mas com o anúncio de uma segunda temporada é mais compreensível. Não mostrar a coroação de Catherine, ou o golpe de estado em si, deixou a série demasiado em aberto. Eu vi a série antes do anúncio referido, por isso ao ver o final, fiquei um bocado amargo. Compreendo que, dado que a história é algo baseada em factos reais, e que na realidade ela tornou-se Imperatriz, mas não teria feito mal em mostrar pelo menos a coroação e Catherine a começar o seu trabalho como governadora, pelo menos para benefício do espetador.


Concluíndo, The Great, apesar de um final demasiado aberto e uma dificuldade em diferenciar-se de The Favourite, é uma série que cativa o público e recria o charme do filme mencionado para uma experiência agradável. Agora, é esperar que a próxima temporada saia, para regressarmos ao mundo surreal e bizarro da corte russa.


Filipe Melo

16 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page