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The Twilight Zone (2019): Uma sombra demasiado grande


ATENÇÃO: Esta crítica tem spoilers para The Twilight Zone (2019). Se ainda não viu, leia esta crítica por sua conta e risco.


O reboot de The Twilight Zone estreou a segunda temporada no final de Junho, com dez novas histórias para nos fascinar e aterrorizar. Apresentada por Jordan Peele, a antologia tenta mais uma vez captar o tom surreal e pensativo da série original, abordando temas como o luto e a identidade pessoal através da lente do fantástico.


A primeira temporada tinha sido alvo de críticas acerca da falta de nuance na escrita dos episódios. A maioria das histórias tinham mensagens que, independentemente do quão válidas ou necessárias eram, eram abordadas de forma desastrada e com a subtileza de um camião. Acho que o único episódio que beneficiou dessa falta de subtileza foi Replay, onde uma mãe tenta impedir que o seu filho seja morto pela polícia, num comentário aterrador à brutalidade policial nos Estados Unidos. Os restantes episódios apenas pareciam sermões direcionados ao público. O pior deles foi Not All Men, onde todos os homens de uma cidade tornam-se violentos e raivosos depois de um meteorito aparecer no céu, mas com o twist que o meteorito não tem nada a ver com a súbita violência. Não, todos os homens são extremamente violentos por natureza, e naquela noite todos os homens da cidade decidiram ceder aos seus impulsos ao mesmo tempo, simplesmente porque sim.


Mas esta crítica é sobre a segunda temporada, não a primeira. Quanto a isso, posso dizer que houve uma melhoria nos episódios da segunda temporada. Premissas interessantes e atuações incríveis levam a episódios genuinamente aterradores. Meet in the Middle, o primeiro episódio da temporada, retrata a história de Phil (Jimmi Simpson), um homem solteiro solitário que um dia descobre uma ligação telepática com Annie (Gillian Jacobs), mas há algo sombrio por detrás desta história de amor. Try, Try mostra Claudia (Kylie Bunbury), uma mulher a fazer pesquisa para a sua tese a conhecer Marc (Topher Grace), um homem charmoso que parece saber tudo o que vai acontecer, até ao mais intímo detalhe. A Human Face fala de um casal que descobre um alienígena na sua cave com a cara da sua filha morta, e que discutem se é uma armadilha ou uma bênção.


Os episódios abordam e exploram os temas que tratam de forma pensada, e as prestações dos atores conseguem carregar os episódios mais ousados. Jimmi Simpson carrega o seu episódio apenas com expressões faciais, dado que o diálogo é na sua maioria mental. Todo o elenco de The Who of You, a história de um homem que consegue trocar de corpo com qualquer pessoa, merece um prémio por manter maneirismos e tiques vocais consistentes entre si, tornando sempre claro quem está em quem.


Mas, infelizmente, este reboot ainda não conseguiu chegar ao nível do original. Mais uma vez, os episódios são demasiado longos para as histórias que contam, à semelhança da primeira temporada. Mais ainda, há um problema recorrente ao longo dos episódios que tenho notado: o terceiro ato, a grande conclusão do episódio, é frequentemente a parte mais fraca. You Might Also Like, por exemplo, é um episódio sobre o consumismo e a publicidade, bem como a invasão da nossa privacidade por parte desses anúncios. Os primeiros dois atos criam um mistério interessante e aterrorizador, com a ideia de anúncios relacionados com a tua vida serem transmitidos no teu cérebro enquanto estás inconsciente, mas a conclusão deixa muito a desejar, abandonando toda a lógica e a mensagem para fazer referências à série original. Outro exemplo é A Human Face, porque o final acaba por ser todos os mistérios a serem revelados através de um discurso gigante e aborrecido. Por muito que eu adore o episódio, não consigo ignorar isso.


The Twilight Zone precisa de deixar para trás as histórias icónicas do original e focar-se no seu conteúdo. Ao tentar imitar o original, acaba por parecer uma cópia barata de uma série que revolucionou os gêneros de ficção científica e horror. O reboot precisa de encontrar uma voz original, porque sem ela, a antologia não irá sobreviver.


Talvez esteja a querer gostar mais desta série do que ela merece. Talvez me está a escapar algo. Mas quero acreditar que esta série consegue captar a nossa atenção, porque já vi os episódios que conseguiram. Vou continuar a dar mais oportunidades, mas, por enquanto, este reboot continua na sombra do original.


Filipe Melo

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