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Westworld: O que aconteceu? [spoilers]




Se a segunda temporada de Westworld pecou pela complicação excessiva da narrativa, esta pecou pelo problema oposto.



Com o final da terceira temporada, emitido no passado domingo, concluímos a história de Dolores (Evan Rachel Wood) no mundo real, com o seu plano finalmente a dar frutos. Começou a revolução, o grande vilão da temporada foi derrotado, a custo da vida de Dolores, e um novo futuro se aproxima da humanidade. A nossa protagonista nesta temporada, admito, foi redimida e agora é reconhecível como aquela que nós conhecemos quando a série começou, embora mais danificada emocionalmente. O toque de adicionarem que ela foi programada “com uma sensibilidade poética”, e as referências ao seu monólogo interior da primeira temporada foram pontos bastante interessantes.


Com a introdução de Caleb (Aaron Paul), vemos o primeiro humano não relacionado com o parque que realmente é uma boa pessoa. Com algumas falhas, sim, mas tal como Dolores refere no último episódio, ele tem a capacidade de escolher ser bom. As semelhanças que ele tem em relação aos hosts na primeira temporada também são interessantes, entrando na questão do livre-arbítrio.


Infelizmente, porém, acho que são as únicas personagens que possam interessar ao público (e admito agora que Dolores é incluída apenas por causa do último episódio). O resto do elenco não parecia ter uma personagem mais profunda que uma função na história. Bernard e Stubbs (Jeffrey Wright e Luke Hemsworth) funcionavam como exposição e humor, respetivamente. Maeve (Thandie Newton) agia como músculo contratado para Serac (Vincent Cassel) contra a sua vontade, até ter uma conversa com Dolores no último episódio e decidir ajudá-la. William (Ed Hardy) apareceu simplesmente para dizer que ia salvar o mundo e morrer imediatamente a seguir. Nenhuma das personagens parecia estar a agir conforme o que foi estabelecido nas temporadas anteriores. A inteligência e perspicácia de Maeve desapareceu, bem como a sensibilidade de Bernard. Stubbs podia não existir e a história poderia se desenrolar exatamente da mesma forma.


Quanto às novas personagens, Dolores-Hale (Tessa Thompson) começou de forma bastante interessante, com a ideia que uma cópia não significa que seja exatamente a mesma pessoa, mas dado que a cópia teria a mesma sensibilidade poética, memórias e capacidade de ver o bem que a original, não consigo entender a alteração da personagem para o mal. Talvez compreenderia melhor se a série mostrasse o momento em que Dolores quis salvar a humanidade em vez de a matar, mas sem isso, a mudança não faz muito sentido. Quanto a Serac e Rehoboam (Paul Cooper), foram caricaturas de vilões, a agir de acordo com todas as falhas clássicas que acabam por tramar o antagonista. O conceito deles era interessante, a do livre-arbítrio como mal do mundo, mas mantiveram-se sempre na superfície. Não havia complexidades durante toda a série, e só neste último episódio decidiram apresentá-las, quando já não podiam ser exploradas.


O mundo real da terceira temporada não tem o mesmo encanto que a primeira. O charme de Westworld era o parque, a fusão do robótico e do velho oeste, como dois mundos diferentes separados por uma linha ténue. O mundo real, por outro lado, parece vazio e repetitivo. Parece uma cidade futurista como outra qualquer. Não há nada que a define visualmente.


Na verdade, até é esse o principal problema temporada. A série tornou-se genérica, cheia de cenas de ação desnecessárias e conflitos que se resolveriam facilmente, se todos se lembrassem das suas caracterizações anteriores. Maeve, sendo uma mestre da persuasão e da perceção, a evitar conversar para poder escapar das garras de Serac? Dolores, dado que ela não quer matar os humanos ou a Maeve, a não lhe dizer isso? A história ficou em segundo lugar para lutas e perseguições de carro falsas, irrealistas e cansativas.


Não sei o que acontecerá na quarta temporada, se houver. Mas, pelo que vi até agora, recomendo que vejam ou revejam a primeira temporada de Westworld. Talvez a segunda também. Poderá ter menos charme que a primeira, mas ainda se mantém fiel à história, ao contrário desta.

Filipe Melo

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