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When they see us: O roubo do tempo e da liberdade



A minissérie When they see us, em português, Aos Olhos da Justiça, de Ava DuVernay retrata a história verídica de 5 adolescentes americanos, quatro negros e um latino, acusados de uma violação de uma corredora de etnia caucasiana no Central Park, na cidade de Nove Iorque. Eles eram conhecidos como “The Central Park Five”. A 19 de Abril de 1989, 30 jovens, na maioria afro-americanos, seguem rumo ao Central Park. Nem todos possuíam boas intenções e começavam a agredir e a causar tumultos com quem se encontrassem. Entre esses jovens encontrava-se, ao acaso, Anton McCray (interpretado enquanto jovem por Caleel Harris e mais tarde por Jovan Adepo), Yussef Salaam (interpretado enquanto jovem por Ethan Herisse e mais tarde por Chris Chalk), Raymond Santana Jr. (interpretado enquanto jovem por Marquês Rodrigues e mais tarde por Freddy Miyares), Kevin Richardson (interpretado enquanto jovem por Asante Blackk e mais tarde por Justin Cunningham) e Korey Wise (interpretado em ambas as fases por Jharrel Jerome). Nessa mesma noite, é encontrado o corpo uma jovem de 28 anos, cheia de sangue, com múltiplos ferimentos, em estado de hipotermia e sémen no corpo. Tratava-se de Trisha Meili (Alexandra Templer) que estava ali a correr. Após 12 dias em coma, mesmo recuperando, não se lembrava de nada. Depois alguns dos adolescentes terem sido detidos pelos tumultos que causaram, as autoridades tornam-nos testemunhas do acontecimento e começam a fazer perguntas. A rifa de suspeitos calhou nos quatro jovens mencionados: Anton McCray , Yussef Salaam com 15 anos, Raymond Santana Jr. e Kevin Richardson com 14 anos respetivamente. Já Korey Wise, de 16 anos, não foi detido inicialmente, pois apenas foi acompanhar Yussef Salaam à esquadra e tornou-se assim, o quinto suspeito. Foram interrogados cerca de 30 horas, sem comer, beber, ir a casa de banho ou dormir. Exaustos, coagidos, e manipulados pelas autoridades e pela sede de voltarem a casa, acabaram por confessar um crime que não cometeram, onde não existia qualquer prova de ADN, impressões digitais, sangue ou sémen que ligasse estes jovens ao crime, os jovens acabaram por ser considerados culpados, com penas entre 6 a 13 anos em reformatórios, excetuando Korey Wise, que foi sentenciado à prisão perpétua e julgado como um adulto, pois já tinha 16 anos. Algo que me chocou foi o facto de Donald Trump, ex-presidente dos EUA, ter gasto cerca de 85mil dólares numa promoção à pena de morte para o grupo.


Considerado um dos crimes mais chocantes e significativos da década de 90, o facto de termos uma vítima branca e um grupo maioritariamente de negros, faz com que a questão e a tensão social se acentuem, onde jogos de poder, discriminação social e questões raciais vêm a tona. Esta minissérie, com atuações brilhantes de todos os intervenientes, traz um despertar político e uma reflexão sobre os conceitos de justiça, direitos civis e a tolerância. A série realizada e escrita por DuVernay não precisou de ser criativa para prender a atenção. Tendo ou não liberdade criativa, a mensagem é clara: 5 adolescentes são acusados pela sua cor de pele e é-lhes roubada o tempo e a liberdade! Cinco vidas são afetadas e não há nada nem dinheiro no mundo que possa pagar o tempo e a vida que lhes foi roubado. É de enaltecer o trabalho da equipa, desde a fotografia, a escolha de planos e a escolha e elenco. Conseguimos estar na pele dos personagens e perceber o quanto aquilo é inaceitável e que jamais se pode repetir. A arte, mais uma vez, a abrir-nos os olhos de uma forma que chega a doer, a dar-nos um murro no estômago e a chamar-nos para a realidade. Não deve ser vista de forma leve, como se fosse meia dúzia de horas de entretenimento. When they see us, é muito real, e apesar de se ter passado nos anos 90, ainda hoje acontece. Ainda hoje há racismo. Ainda hoje a violação é menosprezada. Vamos acordar! Que isto nos faça acordar e trazer mais justiça ao mundo e as gerações vindouras. E lutemos sempre, pela nossa liberdade!


Melanie Rebelo

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