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A Bela e o Monstro: Deixar Dominar pela Magia e Fantasia



“As crianças acreditam no que lhes contamos (…) Peço-vos alguma desta simplicidade infantil e, para nos trazer sorte permitam-me dizer três palavras mágicas o “abre-te sésamo” da infância: Era uma vez” assinado por Jean Cocteau. Quando vos pedirem para relembrar a história “A Bela e o Monstro”, a maioria das pessoas vai pensar não no conto original, mas sim na versão da Disney, que é excelente, deixem-me acrescentar. Mas a grande adaptação desta história para o cinema, é para mim, o filme realizado por Jean Cocteau, poeta, argumentista, escritor, designer, cineasta, crítico de arte e até crítico. Faltou alguma coisa? Espero que não, é difícil relembrar de tanta coisa quando falamos de um homem que respirava e era a personificação da palavra “arte”.


Nesta versão francesa, de 1946, Jean Cocteau não abriu o filme com a história. Decidiu ser direto e as primeiras imagens que vemos são as de uma equipa de cinema pronta a filmar, até que o próprio Cocteau diz para esperar pois é necessário mostrar um pequeno aviso antes do filme. As palavras com que iniciei a minha escrita. As pessoas aceitam mais facilmente ver uma versão animada de “A Bela e o Monstro” porque associam a fantasia a crianças e o filme de animação para crianças, algo que digo com convicção que está absolutamente errado, e este filme é a prova disso. Cocteau pede-nos para vermos o mundo da mesma maneira que uma criança faz. Que olhemos para as fantasias do mundo e nos deixemos levar pela impossibilidade das coisas. Que acreditemos por alguns momentos antes de voltar às nossas vidas, que pior são por serem dominadas pela realidade, que existe magia, que é possível os homens transformarem-se em monstros e existirem palácios encantados. Que sejamos crianças mais uma vez. Um pedido que aceito de bom grado, especialmente quando sou acariciado com um filme desta qualidade.

Será relevante falar da história? Existe uma mulher pobre, maltratada pelos “seus”, com uma vida que a faz desejar por um céu mais azul. O seu pai colhe uma flor de um palácio encantado, um crime para o Monstro que lá habita. Bela oferece-se para ficar no palácio em lugar do seu pai e, gradualmente, vai-se sentindo atraída por este monstro. O clássico não julgar um livro pela capa. No final, o Monstro revelou ser um belo príncipe, interpretado pelo “muso” de Jean Cocteau, o seu amante Jean Marais. E os maus são castigados por suas condutas terríveis. Uma história de fantasia, mas uma história bem contada. O mais impressionante no filme será o mundo que Jean Cocteau criou, com o Palácio do Monstro. Onde braços aparentemente vivos seguram os candelabros que iluminam as salas, ligando as luzes a seu bel-prazer e quando mais necessário for, onde os bustos olham por nós e os objetos são um símbolo de riqueza extraordinária, mas detentores de uma tristeza extrema por longe terem sido os dias em que receberem bailes e festas. Os jardins são ostentosos, mas os animais não andam por lá. Talvez na nossa ignorância da idade adulto, que nos faz repudiar tudo que seja diferente do real e apelidar de ridículo tudo o que não se correspondente ao mundo que vivemos, poderemos facilmente desprezar o encanto que este mundo tem, mas aqueles que se derem à magia e procurarem nela um escape da vida ou simplesmente quiserem maravilhar-se com a graça e perfeição que Jean Cocteau criou (e não há elogios suficientes, por isso ficarei apenas pela vazia palavra que é beleza que em nada descreverá com justiça as imagens que Cocteau criou), encontrarão em “A Bela e o Monstro” uma forma de rejuvenescer por minutos, de encontrar o “eu” que ainda não está preso à triste realidade.


Quis que este artigo fosse curto pois é assim que as crianças gostam de ouvir as coisas. Os adultos que falem e falem, enquanto nós nos iremos divertir e aproveitar a infância. Sinto-me criança outra vez ao ver este filme, apesar de ter visto este filme pela primeira vez aos 23 anos e não aos 12. Por agora, ficarei a ver, convido-vos a fazer o mesmo.

Manuel Fernandes

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