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A Quiet Place: O que faríamos pela nossa família?



No futuro não muito distante, a humanidade foi invadida por monstros sensíveis ao som. O silêncio tornou-se uma arma de sobrevivência: basta o som de pisar um ramo para que os alienígenas apareçam em segundos. A família Abbott, os nossos protagonistas, conseguiram sobreviver com o uso de língua gestual, para se adaptarem aos problemas da filha mais velha, que é surda. Mas com a gravidez de Evelynn (Emily Blunt), a família terá de se unir e fazer todos os preparativos possíveis para a chegada do bebé, sem nunca atrair a atenção do inimigo.


A Quiet Place foi um sucesso surpreendente. Com John Krasinski a estrear-se como diretor, e a interpretar o papel principal, o filme é muito mais do que um filme de terror. A Quiet Place capitaliza no medo dos nossos filhos estarem em perigo e no instinto paternal de os proteger desse perigo para que o público se identifique com as personagens no ecrã. O facto que Emily Blunt e John Krasinski serem casados na vida real dá mais um nível de subtexto à história, tornando-a mais realista com os medos que eles próprios devem sentir e compreender.


Por falar nos dois atores, dou a mão à palmatória. Emily Blunt já está habituada a papéis mais dramáticos, mas a sua interpretação de uma mãe grávida que vai proteger os filhos a todo o custo é incrível. John Kransinski, por seu lado, era mais conhecido como um ator de comédia, especialmente no The Office. Neste filme, Krasinski mostra dotes dramáticos excelentes. Consegui esquecer a imagem de Jim Halpert e acreditar plenamente que este era Lee Abbott, pai protetor e homem imparável.


O filme aposta muito no som. Numa narrativa onde a base para a sobrevivência é o silêncio, o som tem de ser muito bem trabalhado. Posso dizer que foi esse o caso aqui. A quase ausência de falas, bem como o realce dos sons que existem criam um clima de tensão e suspense ao longo do filme. A Quiet Place tem uma capacidade inata de fazer o próprio público estar calado, com medo de atrair os alienígenas. Aliás, o filme é muito bom a criar a sensação de paranoia, graças à rapidez dos monstros em questão. Um som baixíssimo leva alguém a ser morto em segundos, dando a ideia que eles estão sempre fora do plano à espera de um deslize.


A construção do mundo de A Quiet Place também é muito boa. Todas as regras e práticas que as personagens têm fazem sentido para uma família que está habituada a viver em silêncio. Brinquedos feitos de lã e outros tecidos, o uso de caminhos feitos de areia, descalços, para atenuar todo o som que possam produzir, e o uso de língua gestual para poderem falar à vontade são exemplos que dão uma sensação de realidade ao filme.

A primeira cena é um exemplo muito bom em estabelecer o tom de uma longa-metragem, ao aplicar-lhe uma dose de realismo ao mesmo tempo. O filho mais novo dos Abbott encontra um brinquedo que faz barulho, mas é lhe dito repetidamente para não o acender. Porém, ele ainda é muito novo, e crianças da idade dele ainda não têm instintos de sobrevivência. Quando o brinquedo começa a fazer barulho e vemos Lee a correr em direção ao filho, conseguimos ver o desespero no seu olhar, a tentar salvar o filho. É uma cena poderosa para o início desta obra e estabelece bem o tom, a temática e todos os riscos do filme.


A Quiet Place é uma experiência cinematográfica muito boa, com o seu terror enraizado em medos base que todos nós temos, ou eventualmente teremos. É um filme capaz de nos absorver para dentro do seu mundo e fazer-nos seguir as suas regras. E é um terror que nos faz saltar com cada barulho involuntário que ouvimos, mesmo se esse som não for produzido pelo filme. É excelente.


Filipe Melo

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