Airplane: Um Rei da Paródia
- underscop3
- 27 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de nov. de 2020

Ted Striker (Robert Hayes) é um ex-militar traumatizado que tem de pilotar e aterrar um avião, num voo comercial com passageiros doentes, incluindo os pilotos. É esta a história de Airplane. Há ainda uma trama secundária em que Striker tenta reconquistar Elaine (Julie Hagerty), a ex-namorada e hospedeira do voo em que se encontram, mas isso não é importante.
O importante é que Airplane é uma comédia, com um sentido de humor impecável e uma maestria de timing cómico. Uma paródia de Zero Hour, o filme foi um autêntico sucesso, relançando várias carreiras e cimentando Leslie Nielsen como um ator cómico, com o papel de Dr. Rumack.
Parte da piada é o quão sérios são as prestações dos atores. Ver uma rapariga de 8 anos a dizer que quer o seu café como os seus homens é hilariante, por todas as razões, boas e más. Toda a história parece viver num mundo cujas regras são sujeitas à comédia, resultando numa narrativa mais absurda e surreal, chegando a quebrar a quarta parede várias vezes.
Aliás, para perceber o tipo de humor do filme, é preciso imaginar uma linha, uma que a comédia não deve atravessar. Airplane pega nessa linha e decide não só atravessá-la como também fazer dela um laço. Não há alvo que se safe, ou piada tão curta que não possa ser incluída. O estilo rápido da comédia não deixa reagir por muito tempo, por isso mesmo que uma piada não funcione, há rapidamente outro para compensar, e a propensão para o negro apenas intensifica o absurdismo de toda a história.
A cinematografia é, como é óbvio, propositadamente má. O avião é representado com um modelo claramente falso, e há um ponto em que um homem é perseguido por índios a cavalo enquanto conduz, em piadas para o benefício do espetador. O som, por seu lado, segue a seriedade dos atores, à exceção de uma instância.
Porém, o filme consegue ser algo datado, especialmente agora com quarenta anos de existência. Algumas piadas, como o bilhete fumador ou toda a personagem de Robert Murdoch (Kareem Abdul-Jabbar), podem não resultar. No entanto, garanto que há mais do que o suficiente para ignorar a idade da obra.
É difícil escrever sobre Airplane. Há tanto nele que é subserviente ao humor que quanto mais revelo, mais aborrecida é a experiência. O impacto da piada é reduzido quando já sabes o que esperar, embora há sempre coisas no cenário por descobrir. Por outro lado, descrever a história deste filme como uma comédia não é exatamente apelativo. É uma obra que nos apanha de surpresa, com a sua compreensão da linguagem fílmica e dos elementos narrativas, que oferece um momento hilário e ridículo. Não há nada no arsenal cómico que não use, e, com seriedade e comédia de mão em mão, torna-se num ícone na história do gênero de paródia.
Filipe Melo
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