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As Noites Loucas do Dr. Jerryl: Escondido por Máscaras



A maioria das pessoas reconhecerá o nome “O Professor Chanfrado” graças à comédia de Eddie Murphy em que representa uma multitude de personagens da família Klump (com uma cena muito engraçada à mesa de jantar em que as suas várias personagens conversam como se diferentes atores se tratasse), juntamente com o alter-ego de Buddy Love. Trinta e três anos antes, a ideia original vinha do influente comediante, Jerry Lewis. Um indivíduo genial, mas igualmente trapalhão, cria uma poção (uma forma um tanto medieval de me referir à química) que o muda completamente e o torna num engatatão com saídas agressivas.


Entre cores garridas e a típica comédia física de Jerry Lewis, “As Noites Loucas do Dr. Jerryl” poderia ser mais uma comédia do ator em que as coisas vão ocorrendo, muitas vezes de forma aleatória, com o único intuito de fazer rir. Ele cai, fala com uma voz estridente, diz coisas desnecessárias e a audiência eventualmente ri-se. Lewis tinha jeito para isso, e esse género de comédia conquistará as pessoas que preferem a excentricidade, especialmente para aqueles que forem fãs de desenhos animados clássicos como os “Looney Tunes”. Porém, há qualquer coisa de maior interesse neste filme que o torna num dos melhores de Jerry Lewis, senão o melhor, pelo menos na minha opinião.


Mais que uma entrada para o catálogo das palhaçadas, com este professor chanfrado, Jerry Lewis decidiu reinventar-se e criar uma metáfora para ele mesmo. As audiências conheciam-no como aquele pateta dos filmes, com a voz que faria os vidros das janelas rebentar. Poucos conheciam o verdadeiro homem que poderia ser mais severo e que para ele, muitas coisas não eram somente uma piada, mas sim um negócio. Ao criar a personagem de Buddy Love, Jerry Lewis dividiu-se e permitiu-se a sair da sua zona de conforto nos seus filmes. Ao revés do professor Kelp, Buddy Love vestia-se de uma forma estilosa, tinha uma auto-estima que rebentava com a escala, e uma voz que era capaz de impressionar até os mais exímios cantores (a voz é o elemento mais surpreendente, pois para quem não conhecia a verdadeira voz de Jerry Lewis, tal como eu, ficará completamente estupefato por ouvir o quão grave é). As cenas naquele bar de cor púrpura, em que Buddy Love irrompe a cantar com o seu fato de cor azul choque e a sua atitude de macho alfa são as mais memoráveis do filme e que mostram também as capacidades de Jerry Lewis na cadeira de realizador.


São duas personagens completamente distintas, e assim o filme nos parece levar a crer, mas a verdade é que mais próximas que elas não poderiam existir. As mais divertidas sequências são aquelas com Buddy Love, as que mais adrenalina trazem à cena. As mais aborrecidas, mas também dotadas de uma maior empatia e compaixão são aquelas com o professor Kelp. Se virmos estas personagens como duas partes do mesmo homem, qual é o exterior e qual o interior? Trata-se de alguém tímidos que se esconde por trás de uma faceta de campeão? Ou trata-se de alguém cheio de si mesmo que se esconde por trás de uma cara mais amorosa?


Manuel Fernandes

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