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Bombshell – O escândalo



Como diz Inês Moreira Santos, autora do blogue "Hoje vi(vi) um filme", redatora do filmSPOT, cronista de cinema na revista Gerador, digo-o como se apresenta: "eu hoje vi(vi) um filme". Sim, e não foi um filme qualquer. Não foi uma mera especulação, antes pelo contrário. Foi uma representação de um cenário bem real. E bem como a realidade, a representação do cenário foi montada com uma acuidade estonteante.


Falemos de feminismo. É disso que se trata o filme? Bem, não. Embora pudéssemos puxar o assunto por esse tema. O problema, ou a grande contradição, é que parece que as mulheres do filme se colocam umas contra as outras, com a mesma facilidade que têm em se colocar contra um homem. Quando se começa a falar de carreira, estatuto e reputação, parece que as mulheres representadas neste filme estão todas de acordo. Ou, pelo contrário, de costas voltadas.


O filme não representa apenas o mundo das mulheres na carreira. Fala também sobre um assunto que nos choca a todos, um conteúdo bastante político, que é o preferido de quem sabe falar bem mal. Esse assunto são os meios de comunicação ou os media. E digo falar bem mal, porque é preciso de facto ter um bom lapso de visão sobre como funcionam as grandes empresas e como se comportam a nível de concorrência. É preciso saber ter argumentos que incitem a raiva e o combate a este grande meio de comunicação e saber comprová-los. Por isso falar bem e falar mal, estão ao mesmo nível, neste caso.


Poderíamos falar de feminismo. Ao que várias mulheres acabam por se juntar contra apenas um opositor, um homem. Encontramos um retrato do mundo dos media, e um assunto que abalou os Estados Unidos. Embora não fosse um tema novo, mas sim um tão "bem falado" pelo povo: o assédio sexual. Roger Ailes não foi o primeiro homem americano a ser acusado de assédio, nem será o último. Mas, apesar de toda a claustrofobia que existe dentro de uma rede de negócios e que acabamos por (vi)ver em conjunto com as personagens, não se deixa brilhar no seu todo, não fosse ela um mórbido "estar" de estimação do mundo que nos rodeia.


Ao invés, esta longa metragem americana faz relevar à nossa atenção o personagem principal, Roger Ailes e de como ele foi acusado de assédio sexual por várias mulheres. Então? Somos melhores do que isto. Será que é mesmo esta a mensagem que desejamos reter nos 130 minutos de filme? Não me acredito que seja. Por isso, estou aqui para vos falar do que realmente importa. Daquilo que não passa de mais uma manipulação dos media. É incrível e tão revoltante ao mesmo tempo. Pessoas vendem a alma a uma corporação, em troca de uma vida estável e tudo o que temos no final é um enfoque na acusação por mais de duas mãos cheias de mulheres, de assédio sexual? Sem querer, de maneira alguma, descurar a relevância da questão e a obscuridade da mesma, continuo a crer que tudo não passa de uma manobra de distração para arrecadar mais milhares de dólares.


Já vimos outros filmes sobre escândalos. Temos o Spotlight, Snowden, O Caso de Richard Jewell, Erin Brokovich. Este último, veio marcar um momento histórico na emancipação da mulher como líder e na sua incrível capacidade para exercer o poder. Para mim, o mais impressionante foi Snowden. Não só pela incrível atuação de Joseph Gordon- Levitt, mas também pelo seu conteúdo, não só misterioso como incrivelmente real.


Mas falemos de Bombshell – O escândalo. Este último que temos nas mãos não só nos dá a conhecer a claustrofóbica, obscura, mórbida e muda realidade de um mundo onde só vence "os que têm estômago", como também (e talvez para muitos), nos alicia a combater neste mundo onde apenas precisamos de conversa de circunstância e um sorriso nos lábios.


Quem nunca sentiu que tem o poder, como Kayla? A jovem jornalista, que ambiciona chegar ao topo. Mas também, quem nunca esperou por uma retaliação? Como as muitas pessoas retratadas no filme, incluindo homens, como os irmãos Murdoch, os testa de ferro da Fox News. Trabalhar sobre subjugação, não é o desejo de ninguém. Embora alguns admitam que "se dão bem em ambientes disfuncionais".


Não é só a realidade muda que temos presente neste thriller americano. Que apesar de ser comercial, é um bom estudo para uma crítica. Também nos deparamos com as oportunidades e os interesses que uma mulher bem sucedida tem para se manter na front row. Desde disputas com Trump, até estar constantemente atualizada pela sua equipa, Megyn, luta pela sua carreira como uma verdadeira empresária. Megyn, não só é um exemplo de força, como também de beleza e de como uma mulher, apesar das suas fraquezas, é capaz de persuadir o público sem se vender. Mas como em tudo nos negócios, se queres vencer, tens de pensar sujo e jogar limpo. Esta jornalista conseguiu subir na carreira apenas com o seu poder de persuasão e tem nas suas mãos o maior poder de todos: de levar para a frente a acusação de assédio feita a Roger Ailes, por outra grande cabecilha: Gretchen. Esta viu a sua carreira por um fio, e a consequência por se recusar a contribuir para a satisfação sexual de Roger, foi o fim para o seu trabalho. E Megyn, uma vez assediada, diz não ter sucumbido ao poder de Roger. Mas cá para nós, devemos ter em conta que a sua negação pode muito estar protegida pelo seu próprio interesse. E Kayla? Que vemos uma vez e outra a entrar e sair do gabinete de Roger. Será que ela também se vendeu? Por achar que não havia outra saída. Por razões que só as próprias mulheres que o acusam conhecem.


Neste sentido, é aqui que reside a grande interrogação. Pois numa das cenas do filme, vemos Gretchen no supermercado a ser abordada por uma mulher com o filho ao colo. Esta diz-lhe que não gosta do seu trabalho. Temos então aqui presentes mais do que um assédio, mais do que feminismo, mais do que política. Temos a representação banal e mundana de onde todos fazemos parte. Desde os sorrisos e as conversas de circunstância, às lutas pelas oportunidades e interesses de se manter apoderado. Um facto interessante que o comprova, é Gretchen ter esperado silenciosamente o seu despedimento para processar Roger Ailes. Embora desejasse no fundo processar a Fox News.


No final, todas as acusações derrubaram Roger Ailes, só que não derrubaram todos os homens no poder, que se dão ao luxo de assediar mulheres, as quais foram caladas com milhões de dólares.


Fica aqui a última apreciação: Roger foi acusado de ter aberto as portas à fama de todas as mulheres que estão hoje em frente a uma câmara na Fox News. E não só foi acusado de assédio a essas mulheres, como meio das mesmas subirem na carreira, e de ser o benfeitor desse mesmo facto.


E por último, a grande questão. "This is a man's world", como diz Tom Jones na sua cantiga ou "This is a woman's world, this is my world", como diz Neneh Cherry? Nascida na Etiópia e emancipada nos Estados Unidos.


Rita Carreira

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