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Can You Ever Forgive Me: O Melhor Papel de Melissa McCarthy



No início da década de 90, a vida não corre bem para Lee Israel (Melissa McCarthy). Tem a sua renda por pagar, um gato doente, e ninguém quer comprar aquilo que ela escreve. Amargurada e desesperada, Lee começa a vender cartas forjadas com a ajuda de Jack (Richard E. Grant). As cartas valem imenso dinheiro e Lee ainda consegue estabilizar a sua situação, mas depressa irá ser reconhecida pela sua escrita, pelas piores razões.


Can You Ever Forgive Me é um filme biográfico, baseado no memoir de Lee Israel, a escritora. Marielle Heller é a mulher atrás da lente, gravando a teimosia e amargura da personagem principal. É um retrato curioso, em que o autor se recusa a suavizar os seus piores lados.


A personagem de Lee é carrancuda, rude e cansada da vida. A estética fria e suja, iluminada apenas por candeeiros, da série reflete muito bem a nossa protagonista, cujo principal defeito é recusar-se a ser amável. Lee é uma pessoa indelicada e bruta, o que a isola cada vez mais das pessoas à sua volta. O colapso da vida da escritora é retratado com brutalidade, quebrando cada vez mais a esperança das coisas voltarem ao normal.


Melissa McCarthy está de parabéns. A atriz é mais conhecida pela comédia, mas desta vez decidiu aventurar-se no mundo do drama, com muito sucesso. McCarthy usou o seu talento para ser Lee Israel na plenitude, com todos os defeitos e a tristeza. Desaparece no papel, e é difícil reconhecer que é a mesma atriz que fez Bridesmaids.


Reparei que McCarthy, na sua prestação, acaba por usar muitos dos truques dos seus outros papéis. A atriz está normalmente associada a papéis onde ela pode ser uma mulher que não tem noção dos limites, ou rude, ou geralmente imprópria. É semelhante à ‘ideia’ de Lee Israel, a personagem. A única diferença é que Lee está num drama, enquanto que as outras estão em narrativas cómicas. Can You Ever Forgive Me acaba por ser uma versão mais realista, por assim dizer. Alguém com uma personalidade geralmente desagradável, quando não está protegido pela comédia, não irá fazer muitos amigos, e é exatamente esse o caso do filme. É talvez o projeto perfeito para McCarthy transitar da comédia para o drama, porque deixa-lhe fazer aquilo que ela faz melhor num contexto diferente.


É claro que não me posso esquecer de Richard E. Grant como Jack, o confidente de Lee Israel. As partes mais levianas do filme são graças a ele, deixando o público respirar. Grant representa-o com estilo e charme, um charlatão com um bom coração, com uma ligeira tragédia subjacente à sua vida. Jack acaba por representar o tom geral do filme: é cómico o quão triste que é.


Can You Ever Forgive Me é o filme ideal para quem quer ver Melissa McCarthy fora da comédia. É o seu papel ideal e consegue carregar o filme às suas costas. Não exagero quando digo que talvez seja a sua melhor prestação até agora. O resto do filme é bom, com uma narrativa que não surpreende, mas faz-nos sentir algo. Talvez a solidão subjacente a todo o filme nos é transmitida pelo ecrã, de alguma forma. É uma obra honesta, sobretudo, sobre os efeitos da nossa arrogância e raiva tem naqueles que amamos.


Filipe Melo

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