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Candyman: A Importância da Construção de um Vilão


A minha primeira recomendação para o Halloween é sobre um filme que aborda de certa forma uma personagem que pode aparentar ser um monstro. Dentro deste leque de filmes que retratam como foco uma figura marcante, seja ela: fantasma, espírito, animal, criatura mítica (Vampiro, lobisomem, zombie), este para mim é melhor dentro desse estilo. Atualmente, os filmes de terror inseridos nesta premissa esforçam-se demais para assustar o público, e colocam de lado a importância de investir nas construções das personagens. O espectador pode sair do cinema com o ritmo cardíaco elevado, enquanto pensa nas cenas mais assustadoras, mas no fundo é isso. Aliás, eu acredito que é necessário a existência de uma certa disposição para sermos assustados, pois caso contrário, a escolha vai residir noutra categoria de filmes. Neste sentido, Candyman eleva-se como um filme que realmente pode assustar, e que também coloca o cérebro dos cinéfilos a trabalhar. Não esquecendo que é um trabalho dos anos 90, época que basicamente foi marcada por algumas sequelas de filmes de terror clássicos, e considero que Candyman veio reinventar novas abordagens ao terror.


Virginia Madsen assume o papel de Helen Lyle, uma estudante de jornalismo que, juntamente com sua amiga Bernadette (Kasi Lemmons), pretende finalizar a sua tese sobre lendas urbanas. Dentro das pesquisas e entrevistas, ela descobre uma lenda urbana local: a do Candyman. Reza a lenda que se chamar pelo seu nome no espelho 5 vezes e apagar a luz de seguida, não vai sobreviver para contar a história.


Helen segue o rastro dos relatos até um conjunto habitacional comandado por gangues no bairro pobre da cidade, onde recentemente uma mulher foi assassinada na sua própria casa. Lá, ela começa a desconfiar que alguém está a assumir a imagem da lenda urbana para cometer assassinatos e seguindo esse pensamento, ela consegue fazer com que prendam um responsável.


Com a lenda do Candyman a desvanecer-se, tudo se resolve para Helen... Até que o Candyman (Tony Todd) vem realmente atrás dela, tentando vingar-se por ela ter tirado todo o seu poder, gerado pelo medo que as pessoas tinham na lenda. Depois, começa a matar pessoas próximas a Helen, incriminando-a, para que a própria se entregue a ele.



Um dos fatores mais interessantes desta obra é a forma como o filme consegue incorporar todo aquele sentimento excitante que sentíamos ao ouvir uma lenda urbana assustadora pela primeira vez. Os primeiros quarenta minutos de projeção aproveitam bem os relatos de uma maneira não-óbvia, contribuindo diretamente para a construção do suspense. Numa cena, Helen ouve a origem da lenda enquanto fantásticos efeitos sonoros acompanham a tragédia no fundo.


A direção de Bernard Rose é extremamente pontual ao encontrar o meio-termo entre o horror e a fantasia. Aproveita sempre os cenários repletos de grafiti, principalmente aqueles que envolvem a casa do Candyman. Para além disso, o realizador demonstra jogo de cintura ao retratar não só a vulnerabilidade da protagonista nos momentos em que ela se vê encantada pelo vilão, mas também ao mostrar a imponência dele em cena. Claro que isso tudo não seria possível sem a presença de Tony Todd, escolha perfeita para o papel e que já se tornou a maior e mais memorável prestação que fez, mas também por conta da banda sonora de Philip Glass, ainda emblemática três décadas depois. No fundo, torna-se relevante exaltar o desempenho de Tony Todd como o anti-herói da narrativa. Ele é charmoso, tem uma voz única, com som gutural e firme. A sua postura em cena é ameaçadora e exala sensualidade, mesmo que ao abrir o casaco revele um lado abominável, equação que mistura abelhas, vísceras e outros elementos pouco atraentes. O Mistério de Candyman é uma produção de luxo para os primeiros anos da década de 1990, opacos para o terror, gênero em desgaste depois dos excessos da década de 1980. Um filme que merecia muito mais valor por todas as razões que descrevi, portanto aproveitam esta semana para se surpreenderem. Caso não gostarem do filme, eu prometo que digo “Candyman” cinco vezes em frente ao espelho.

Diogo Ribeiro

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