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Conhecer Antoine Doinel: Domicílio Conjugal



Passaram-se dois anos desde os eventos de “Beijos Roubados” e voltamos mais uma vez às peripécias do nosso amigo caricato, Antoine Doinel, agora com 25 anos. O tema agora é o casamento, ou qualquer outro relacionamento sério que já dure há algum tempo e a forma como estes dois elementos, tão diferentes um do outro, lidam com a vida a dois, no seu pequeno “Domicílio Conjugal”.


“Não sou Mademoiselle, sou Madame” diz orgulhosamente Christine Darbon. Esta simples afirmação demonstra como ela se sente na relação que tem com Antoine Doinel. E nos primeiros minutos do filme, percebemos bem o companheirismo entre eles e a paixão que sentem um pelo outro. Ser jovem e estar apaixonado, que coisa boa que é. Agora, que fazem eles os dois? Ela dá aulas de violino, e ele tem um negócio bizarro (talvez na França dos anos 70 não o fosse), ele tinge rosas brancas, procurando dar-lhes um tom “vermelho absoluto” como ele diz. Obviamente, este empreendedorismo não corre nada bem, e o malandreco Doinel vê-se obrigado a procurar um novo emprego. Acaba por ter a sorte de rapidamente encontrar um trabalho também não tão típico. Envolve mostrar barcos em miniatura telecomandados num porto em miniatura a possíveis clientes. E a relação dá um passo em frente com o primeiro filho que têm. E com isso novas responsabilidades, como aumentar o apartamento. Dez anos antes de Jack Nicholson ter rebentado a porta da casa-de-banho com um machado, e espreitado exclamando “Aqui está o Johnny!”, Jean-Pierre Léaud partia uma parede à martelada, espreitava através do buraco, e perguntava “Tudo bem?”. Não tão ameaçador, mas fá-lo de uma forma divertida. É assim o filme, uma comédia ao estilo de Truffaut.


O tom é semelhante ao de “Beijos Roubados”, os temas românticos e dramáticos misturam-se sempre com o humor destas situações e reações inesperadas e curiosas. Quem é mais jovem, consegue rever-se nas criações de François Truffaut, quem é mais velho, sente-se revigorado por voltar a sentir-se como um jovem apaixonado. No entanto, os filmes românticos de Truffaut nunca são tão diretos. Mostram sempre o reverso da medalha, e aqui também temos acesso a uma questão bastante sensível. A infidelidade de um parceiro. Infelizmente, falo da pessoa que menos queremos que incorra neste erro, Antoine Doinel. Não é só um mar de rosas (de tom “vermelho absoluto”), conflitos podem nascer mesmo no mais forte dos casamentos. Quisesse eu que isto fosse uma análise aos temas em “Domicílio Conjugal”, seria este artigo mais longo. Mas não pretendo isso, apenas dar a conhecer a personagem de Antoine Doinel. E quase que terminou esta jornada, pois apenas resta mais um filme com esta famosa personagem.

Manuel Fernandes

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