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Donnie Darko: Ambiguidade no seu Melhor


Donnie Darko tem um lugar especial no meu coração. É um filme confuso e surreal, e que nos deixa com mais perguntas do que respostas, mas, apesar disso, o filme conseguiu fixar-se na mente de muitos e cimentar-se como um clássico do cinema.


Donnie Darko (Jake Gyllenhaal) é um rapaz adolescente que mora nos subúrbios com os pais, Rose e Eddie (Mary McDonnell e Holmes Osborne), a irmã mais velha Elizabeth (Maggie Gyllenhaal) e irmã mais nova Samantha (Daveigh Chase). Um pouco perturbado, Donnie alucina com Frank (Frank Duval), um coelho arrepiante e gigante que lhe diz que o mundo irá acabar em 28 dias, pouco antes de um motor de avião cair em cima do quarto dele. Em dívida com o coelho por ter-lhe salvo a vida, Donnie segue as suas ordens e os seus conselhos, à medida que tenta compreender os estranhos eventos que começam a acontecer à sua volta.

O filme foi lançado em duas versões, a original e a edição do diretor, que inclui cenas apagadas da original, bem como excertos do livro The Philosophy of Time Travel, uma obra que existe dentro do filme sobre viagens no tempo, excertos esses que explicam o que está a acontecer. Não sou grande fã da edição do diretor, apesar de aprofundar um pouco mais as personagens. O apelo do filme, para mim, veio da ambiguidade que gira à volta da história.

O filme mostra Donnie como um rebelde do conservadorismo americano. Um exemplo é a cena em que Donnie critica Jim Cunningham (Patrick Swayze) e a sua moralidade baseada num espectro de Amor/Medo. Acho que é uma crítica da ideia que, no mundo, as coisas são só boas ou más: não há mistura, ou uma terceira opção. Donnie é um adepto da moralidade cinzenta, de que as pessoas são demasiado complicadas para poder atribuir-lhes um valor moral fixo, e que fingir o contrário apenas isola e prejudica as pessoas à nossa volta, especialmente os nossos filhos.


O mundo não é preto-e-branco, de acordo com Donnie Darko. Kitty Farmer (Beth Grant) é um exemplo bom disto, sendo uma mulher devota e empenhada em educar a próxima geração, mas é obsessiva ao ponto de rebaixar e criticar todos aqueles que não concordam com ela. Karen Pomeroy (Drew Barrymore), por sua vez, é uma professora que encoraja os estudantes a pensarem criticamente e realmente compreende os problemas que enfrentam, mas a sua escolha de temas para ensinar acaba por trazer-lhe problemas. Ambas as personagens representam exemplos de moralidade cinzenta no mundo (embora a Karen Pomeroy é de longe uma melhor pessoa que a Kitty Farmer).


Na verdade, Donnie Darko pode ser uma metáfora para a perda da inocência das crianças. Antes pensávamos que os bons venciam sempre os maus, mas depois de crescermos, começamos a ver que as coisas não são bem assim. Ou de como a vida, como não faz sentido nenhum, deve ser apreciada por todos os momentos que ela nos dá. Ou ainda pode ser apenas a tragédia de um miúdo com problemas que ninguém consegue compreender. Aquilo que é claro é que Donnie Darko consegue tocar o público com uma mensagem que, embora não seja clara, está envolta numa bela estética punk. Ou gótico. Talvez emo? É difícil de definir, mas é uma estética bizarra que aprecio muito.


Recomendo o filme para quem goste de histórias deprimentes, que se aprofundam no absurdo e que abraçam, e que nos obrigam a pensar sobre aquilo que aconteceu. Adoraria saber a vossa interpretação.


Filipe Melo

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