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Encontros Imediatos do Terceiro Grau: Para além da Ficção Científica



Todos já ouvimos histórias sobre naves espaciais, extraterrestres que invadiram a Terra, quer tenha sido através de filmes de ficção científica, livros ou até de notícias em que os chamados lunáticos afirmam terem sido puxados por um raio de luz que os levou para um espaço desconhecido onde pequenos homenzinhos verdes fizeram experiências macabras com o seu corpo. Ter um encontro imediato do terceiro grau é sinónimo destas descrições na cultura popular, e se há cineasta que poderia criar uma história interessante e gratificante sobre o tema, Spielberg é o nome.


Começamos a imaginar o blockbuster que aí virá, com marcianos a irromper em cena, fugas nas naves espaciais, heróis carismáticos, só elementos fantásticos que são o protótipo dos nossos sonhos. Exceto… que não é bem assim.


Uma família suburbana americana, perfeitamente normal, vai vivendo os seus dias da forma mais mundana possível. O género de vida que esperamos que tenha, e que muitos de nós também têm. As crianças fazem os trabalhos de casa, os pais trabalham e tratam da casa, e aos fins-de-semana discutem o que irão fazer para melhor aproveitarem os dias em que não há trabalho. Um curioso acontecimento altera quaisquer planos que poderiam ter, falhas de energia por toda a cidade deixam os habitantes completamente às escuras. Roy Neary, o patriarca desta família, e também eletricista, vai tentar resolver o problema. E aí começam as grandes complicações que terminam com a paz da família Neary. Roy, entre outras pessoas que se encontravam no local, têm um fortuito e pouco abençoado encontro do terceiro grau. Naves Espaciais voam próximo ao solo, e a radiação que libertam acaba por queimar levemente a pele de Roy e dos outros que lá se encontravam.


Luzes cintilantes e naves de portal tal que se assemelham a mastodontes voadores sobrevoaram o nosso herói. Mas em vez, de começar uma aventura fantástica à procura de respostas para o acontecimento, inicia-se uma mudança bizarra na forma de estar de Roy. O seu comportamento torna-se errático e incompreensível. Tem atitudes que antes não teria, sem realmente saber porquê. Umas imensidões de compulsões passam a assolá-lo, uma mudança que tem um grande impacto na ordem familiar e, apesar das tentativas, Jillian e os filhos não conseguem compreender o que vai na mente de Roy, ele também não é o melhor para explicar o que quer que esteja a ocorrer.


Não é o rumo típico que este género de história normalmente toma. Apesar de os efeitos visuais impressionantes, estarem lá presentes, de vermos imensos aspetos relacionados com o cinema espacial, as coisas são bastante diferentes daquilo que era suposto. Porque é que Spielberg seguir este rumo com a narrativa? Normalmente, não é ele quem escreve os guiões e as histórias dos filmes que realiza. Claro que ao realizá-los, ele está a fazer o seu próprio caminho e a tomar as melhores decisões como autor, contudo a escrita é uma parte essencial da produção de um filme, e escrever um filme e realizá-lo implica uma conexão forte ao produto artístico. E assim se confirma, “Encontros Imediatos do Terceiro Grau” era um projeto há muito desejado por Steven Spielberg, e se o iria fazer, seria para fazê-lo da forma que mais significado teria para ele. Decidiu colocar-nos na perspetiva das crianças. Apesar de o protagonista ser Roy, nós não entramos propriamente na mente dele. Nós não percebemos na maior parte das vezes o que com ele se passa. A explicação de simplesmente ter sido por ter tido um encontro imediato do terceiro grau é satisfatória para o enredo, todavia, Spielberg decidiu fazê-lo por uma razão.


No documentário “Spielberg”, alguns temas são explorados mais profundamente, entre eles, o que eu evoquei neste artigo. Steven Spielberg infantilizou a audiência e obrigou-a a ficar na posição que ele mesmo passou durante a sua infância, assistir ao divórcio dos seus pais, sem perceber a razão pela qual aquilo se passava, ou porque é que os seus pais tinham aqueles comportamentos. Ganha uma nova camada que não se esperava. “Encontros Imediatos do Terceiro Grau” é, por si só, um filme espetacular e um dos melhores do género de ficção científica, usando efeitos especiais que ainda hoje provocam inveja a quem é da área. É também uma forma de enfrentar tudo aquilo que é para nós incompreensível quando somos crianças. Nem todos os adultos têm o comportamento de um, pois todos estão a passar pelos seus problemas e crises. Com esta não contavam, hein?

Manuel Fernandes

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