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Ma Rainey's Black Bottom: A Prestação Mais Memorável do Ano

Atualizado: 16 de mar. de 2021


As emoções estão ao rubro numa tarde em Chicago, 1927. A mãe do Blues, a indomável e talentosa Ma Rainey (Viola Davis), luta com o seu agente e produtor pelo controlo sobre a sua música. No mesmo estúdio, no andar de baixo, a banda começa a preparar-se para gravar, rindo-se enquanto o trompetista Levee (Chadwick Boseman) conta as histórias da sua vida, anunciando que ele será uma grande estrela, maior que Ma. Ao longo da tarde, vemos as duas personagens em constante conflito, discutindo assim os ideais e desejos da população afro-americana, e aquilo que os impede.


Ma Rainey’s Black Bottom é um filme da Netflix, escrito por Ruben Santiago-Hudson e produzido por Denzel Washington. A obra faz parte da mesma trilogia de peças que Fences, e é a última prestação de Chadwick Boseman antes da sua morte.


Comecemos por ele, dado que Boseman sobressai-se entre a maioria das prestações deste ano. A performance é poderosa, arrebatadora, e é impossível esquecê-lo neste filme. A personagem de Levee é complexa, dada o mudar de humor subitamente, e Boseman consegue representar as transições do seu humor brilhantemente. Numa obra onde o diálogo é o principal motor da história, há sempre o perigo de aborrecer o espetador, mas o ator consegue carregar o filme com um monólogo de cinco minutos, sem nunca perder o nosso interesse.


Viola Davis também dá uma ótima prestação, como a talentosa e poderosa Ma Rainey. Enquanto Boseman usa o diálogo para vincular a personagem dele nas nossa mentes, Davis usa o movimento corporal. O poder irradia dela, parecendo amansar qualquer arrogância que alguém possa demonstrar com ela. Está tudo nos olhares, na maneira como se senta, na maneira como ela ordena aqueles que a rodeiam e a querem dominar. Davis demonstra Ma Rainey como uma mulher implacável às ordens de ninguém, e até nós nos sentimos intimidados quando ela está no ecrã.


O diálogo é fascinante, pelo menos quando é dito pela boca dos atores. Não existe muita ação propriamente dita nesta história; na verdade, a narrativa é carregada através de uma série de monólogos e reflexões, com as personagens rindo e debatendo entre si sobre temas variados. É uma linguagem natural de peças de teatro, e nem sempre consegue ser bem traduzida para o grande ecrã, mas neste caso resulta por causa do elenco. Há uma química inegável entre os atores, especialmente os da banda, com interações tão naturais que parece que não estamos a ver um filme, mas sim uma conversa normal entre músicos, como se fôssemos intrusos.


A estética e cinematografia também se destaca, com cores vivas e brilhantes a representar o final dos Loucos Anos 20. Com a ação a passar-se maioritariamente dentro do estúdio de gravação, a obra recusa-se a tornar o espaço aborrecido, conseguindo gravar o mesmo espaço de maneiras diferentes, mantendo o interesse visual.


Ma Rainey’s Black Bottom tem as prestações mais incríveis deste ano, com dois fortes candidatos para os Óscares de Melhor Ator e Melhor Atriz. São eles a razão pela qual o filme funciona, porque, sem o talento para interpretar as personalidades complexas de Ma e Levee, Ma Rainey’s Black Bottom seria apenas mais uma adaptação má de uma peça de teatro. É por causa dos atores que sentimos que o diálogo significa algo, que estão a revelar mais do que dizem. Chadwick Boseman e Viola Davis decidiram dar tudo nas suas atuações, e bastou isso para tornar o filme inesquecível.


Filipe Melo

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