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Mad Max – As Motos da Morte: A Violência que Domina a Mente



George Miller criou uma das mais violentas sagas de ação e alguns dos mais adoráveis filmes infantis. Quase parece um contrassenso o facto de que o homem que criou “Um Porquinho Chamado Babe” e “Happy Feet” foi o mesmo que criou os filmes da saga “Mad Max”. Enquanto interno num hospital em Sydney, começou a escrever, juntamente com Byron Kennedy e mais tarde James McCausland, aquilo que seria a história do primeiro filme com a personagem de Mad Max. A própria história da produção se assemelha ao próprio filme, revelando-se caótica e tendo o próprio realizador referido tal como “cinema de guerrilha”, vendo-se a equipa obrigada a filmar sem permissões para tal e com um orçamento minúsculo para uma habitual produção de cinema. Muitas vezes, o salário era pago com cerveja em vez de notas verdinhas e a inexperiência do amador realizador com alguma falta de preparação para a filmagem de cenas mais complicadas (que tornou mais complicada a produção e o ambiente de trabalho), entre outras dificuldades são algumas das coisas que tornam mais interessante a história desta produção.


A distopia em que vive Max Rockatansky é avassaladoramente surreal. Reina a anarquia e com ela a violência. Não é totalmente compreensível onde se passa o enredo. Quase parece que qualquer zona em todo o mundo poderia ser alvo desta desolação e tornar-se apenas em mais um sítio isolado que a civilização esqueceu. Em Max temos o símbolo da ordem e de desejo por um mundo essencialmente bom, em que alguma harmonia seja possível, ainda que em doses pequenas. Mas na estrada, vigora a lei do mais rápido e quem for mais rápido… não acaba com o carro em chamas. Se neste mundo desolado em que as leis deixam de ter interesse e tudo à nossa volta se rege por uma violência primitiva encontramos a desesperança, então Max não só a encontra como dela também renasce. Como polícia, procurou dar alguma estabilidade à sua comunidade, mas nada disso foi suficiente pois mostrar a identificação é só um motivo para que os malucos possam rir antes de iniciar uma feroz perseguição. Mas antes de renascer, este herói decide primeiramente fugir. Quando um gangue de doidos motoqueiros mata o seu parceiro, o primeiro instinto é de salvar a sua família. Estes vilões não são os típicos e intimidantes rufiões que nos dão pesadelos. Por vezes parecem mesmo ridículos, quase uma consequência do ambiente que os rodeia. Também existe quem se conseguiu proteger desta alienação como o nosso protagonista, Max, Jessie, sua mulher, e o seu filho. Neles, ele vê a única hipótese de conseguir viver, não apenas sobreviver. E por isso abandona as suas funções policiais. Neste ato não vemos uma descrença no bem e nas suas capacidades como “herói”, mas sim a crença de que nada para o mal, e que o melhor é afastarmo-nos dele se desejarmos continuar as nossas vidas. Infelizmente, Max foi mais uma das vítimas da tirania da loucura e o único símbolo de fé estava na sua mulher e filho que lhe são retirados prematuramente. Começa uma nova jornada para o Guerreiro da Estrada. Munido de sede por vingança, nada o impedirá de fazer aquilo que sua mente lhe diz ser a única coisa que ele tem direito. A violência criou mais violência. No meio de tantas manobras espetaculares, Max tornou-se irreconhecível e o traço de alegria que antes adornava sua cara era agora uma memória distante do homem que ele foi para dar espaço a Mad Max, que tudo fará para perseguir os criminosos do mais hediondo crime de que foi vítima. E aquele que seria a figura que simboliza a luz nesta escuridão, apaga-se, matando friamente aqueles que se atravessaram no seu caminho.


Segue-se o pensamento de que a moral se dilui quando a sociedade se destrói. Quem a tenta seguir, acaba por ser eliminado tal e qual a seleção natural. Deixamos de ser humanos para nos tornamos em “animais” e lutamos pois ninguém nos permite o caminho do melhor homem. Os últimos momentos de Max mostram isso, olhando para o horizonte com uma face indecifrável, um semblante frio que evidencia uma pesada tristeza sem qualquer vontade de ou expectativa para o futuro. Mesmo que a música nos leve a imaginar o contrário.


“Mad Max – As Motos da Morte” é um esforço extraordinário e um marco daquilo que o cinema independente (e mais que isso a vontade humana) pode atingir. Pega numa extensa cultura cinemática para criar algo mais associado a películas de baixa qualidade, atingindo, no entanto, um sucesso impressionante nas bilheteiras e na memória dos críticos e historiadores. Desafia aquilo que pode ser levado à tela nas suas visões negativas e de brutalidade humana, forçando-nos a confrontar os nossos medos do apocalipse. Mostra um futuro que tememos e que desejamos nunca ter que experienciar. Não se trata apenas de manobras divertidas com explosões e carros a alta velocidade, pois é nestas histórias que entendemos que mesmo as ideias mais temíveis merecem ser exploradas pois com elas compreendemos melhor aquilo que assimilamos ser o mundo, o que esperamos e se for preciso como lutar para que não seja desta forma.



Manuel Fernandes

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