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Melhor Filme de Animação: Justo Vencedor?

Atualizado: 29 de jul. de 2020



A gala dos óscares de domingo foi marcada por várias surpresas, mas a maior delas todas, na minha ótica, centra-se na categoria de melhor filme de animação. Um dos fatores é a ausência de Frozen 2 dos nomeados, que já foi bem detalhada num texto anterior, portanto as próximas palavras serão dedicadas ao vencedor, e a outro nomeado que deveria ter recebido o Óscar em seu lugar.


Toy Story 4 atingiu vários pontos históricos, pois torna-se o 10º filme da Pixar a vencer o prémio, dez anos após Toy Story 3 ter arrecadado a estatueta acrescentando, desta forma, o marco de ser a primeira sequela a vencer esta categoria.

Como disse num texto anterior, uma sequela tem uma tarefa complicada e, neste caso, a dificuldade eleva-se pois existem três grandes filmes anteriores a este. O antecedente ganhou o prémio, e atrevo-me a dizer que os dois primeiros só não ganharam o óscar porque, aquando os seus lançamentos (1995 e 1999), a categoria de melhor filme de animação não fazia parte da cerimónia (a primeira vez foi em 2002).

Neste seguimento, Toy Story 3 deixou a pairar no ar durante muitos anos que era o fim, não só pelos acontecimentos do filme, mas também pela sua carga emocional, que, aos meus olhos é imbatível, e que o próximo não conseguiria superar. Sucedeu-se o previsto, e este 4º filme torna-se no mais fraco, o que até nem é algo mau de se dizer, visto que os anteriores atingiram níveis brilhantes.

A principal falha do filme é a pobreza do argumento. Para além da evidente e repetida mensagem do valor da amizade, os dilemas das personagens não têm nenhuma profundidade quando comparando aos outros filmes. A própria inserção de novas personagens secundárias (Gabby Gabby, Garfy e Duke), carece de exclusividade, o desfecho das suas evoluções e histórias é completamente previsível. Até mesmo o reaparecimento da protagonista Bo Peep, deixa mais questões do que respostas, simplesmente assume-se que a sua personalidade é completamente diferente da apresentada nos dois primeiros filmes, pela simples razão de estar noutra fase da sua vida. Paralelamente, é notório durante o filme que as personagens secundárias da trilogia são praticamente esquecidas durante a narrativa do filme.

Obviamente que os aspetos técnicos devem ser citados, desde ao trabalho feito na chuva, nos pormenores da pele e das roupas das personagens, nos neons do parque de diversões, no brilho da porcelana e até na simplicidade da personagem do garfo, tudo isto torna o filme num trabalho perfeito no que toca à caraterização de som e imagem. Fundindo estes aspetos citados, à espetacular última sequência de dez minutos do filme repleta de emoção e nostalgia, obtém-se a salvação do filme de uma queda de qualidade que podia ter sido catastrófica, derivado da infantilidade do argumento, da dilatação desnecessária do mundo dos brinquedos, colocando este filme num espaço modesto dentro da Universo da Pixar.


O nomeado, que a meu ver, deveria ter ganho a estatueta dourada, é o Klaus da Netflix. Um filme que retrata a época natalícia, e que não é demais dentro do vasto leque de longas-metragens acerca do tema.

Apesar da história ser simples, a originalidade advém quando os diversos alicerces do natal (renas, presentes, trenó, meias, etc.) são sujeitos a uma cirurgia com o propósito de revelar a sua origem. Isto interligado com as questões, e até traumas das personagens, pois todas elas possuem um background delicadamente bem explicado, com vital importância no desfecho da ação. Não só os elementos humanos possuem um poder essencial em cativar o espectador, mas também o espaço onde elas se inserem torna-se num dos principais motores que aquece o coração de quem vê.

A cidade transparece a impressão de ter vida própria, inicialmente preenchida de elementos depressivos, tristes e desagradáveis, ganhando tons alegres à medida que os protagonistas começam a lidar com os problemas pessoais. No fundo, o espaço cresce diretamente com o enriquecer da narrativa. Tudo nesta grande obra cinematográfica está interligado.

Sem esquecer a fantástica utilização do bom e antigo 2D, que dá inveja a muitos filmes recentes, revestindo o filme de textura, cor e movimentos próprios para cada personagem.

Surpreendentemente foi a melhor animação de 2019 a todos os níveis: por contar uma história conhecida de uma maneira nunca antes descrita, pelo risco de regressar ao passado na parte técnica, conseguindo obter resultados com relevo nesses campos, e por ser capaz de espelhar com distinção a seguinte moral que é a melhor transcrição do filme: “A true selfless act always sparks another”.


Diogo Ribeiro


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