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Minari: Através dos Olhos de uma Criança



Indicado para 6 categorias nos óscares, incluindo “Melhor Filme”, Minari é o favorito para alguns fãs desta cerimónia que celebra o cinema, ou pelo menos ocupa os lugares cimeiros. Em dois anos seguidos a Coréia do Sul mostra a potência de suas histórias e a capacidade de quebrar a barreira linguística emocionando seja qual idioma de origem seja o seu.


A longa-metragem é dirigida por Lee Isaac Chung, e conta no elenco com estrelas bastantes conhecidas como Steven Yeun (The Walking Dead) e Han Ye-Ri (conhecida por seus trabalhos em dramas asiáticos como Hello My Twenties! e My Unfamiliar Family). Mas, quem rouba a cena mesmo é a dupla composta pelo jovem Alan S. Kim e a veterana Youn Yuh-Jung.


A história passa-se nos anos 80, a partir do momento em que David (Alan S. Kim), um menino de 7 anos se encontra num ambiente totalmente diferente do que havia vivido até então. O seu pai, Jacob (Steven Yeun), muda a sua família da costa oeste para a zona rural do Arkansas. E lá, eles almejam viver o tão desejado ‘sonho americano’, sem desistir de suas origens coreanas.


Há de se notar de antemão que a fotografia e a direção do filme são os verdadeiros destaques de Minari. Os cortes precisos que ditam o rumo que a narrativa irá tomar e como as pessoas devem interpretar o enredo (na maior parte das vezes no olhar inocente de uma criança) é o que faz o filme ser tão sensível e memorável, ainda que a história seja um tanto simples. As cores vivas da fazenda que causam o contraste doloroso com a adaptação um tanto difícil da família de imigrantes nesta nova realidade são um dos pontos chaves do filme para a criação da ligação entre espectador e obra.


Quando digo que o filme é retratado através de um olhar de uma criança é porque isso literalmente está intrínseco. Logo no começo de Minari a câmera é estrategicamente posicionada na altura dos olhos de uma criança, e quando muda de ponto de vista leva a crer que estávamos a ver o que David via. David é o verdadeiro protagonista de Minari, nós vemos a história de sua família através dele. Ainda que não haja algum narrador ou algo tão explicito como isto, a direção encaminha para isso. A forma como ele perceciona a dor e a dificuldade dos pais, seus medos e angústia e também como tudo o que é novo é grandioso e amedrontador.


Além disso, Minari leva consigo o potencial para ser uma história um tanto que pesada e triste, porém não é, porque é suavizada através desse mesmo olhar que já mencionei. Também suavizada graças a relação entre avó e neto, muitíssimo bem desenvolvida na trama.


Após os pontos já mencionados, a melhor coisa do filme é a relação que começou em saldo negativo entre Soonja (Youn Yuh-Jung) e David, avó e neto, totalmente opostos e ainda assim cúmplices.


Enquanto David, em seus sete anos de idade, carregava uma imagem sólida do que uma avó tem que ser, Soonja em toda sua vivência e experiência quebrou as expectativas que seu neto tinha dela. A dinâmica entre os dois, cheia de desavenças e estranhamentos resulta no amor incondicional, capaz de curar o que há para ser curado.


Após uma série de acontecimentos que colocam à prova, não só o relacionamento conturbado dos pais, mas como o estilo de vida da família, descobrimos o verdadeiro significado de Minari, que deu nome ao filme. Uma planta medicinal de origem coreana, que cresce perto de um riacho, serve de metáfora para renascimento e uma adaptação bem-sucedida, após a sua imigração. Plantada no local correto, minari provou que a família, após uma imigração difícil, poderia se adaptar e fincar raízes em um local que ninguém pensou que eles conseguissem ajustar-se com equilíbrio. Quando minari dá frutos, mesmo após um acidente terrível, também dá a esperança de que eles estavam no lugar certo, assim como a planta. E, agora, realmente unidos.


Minari funciona como um álbum de lembranças, onde apenas fragmentos de uma história árdua são lembradas, talvez não na mesma intensidade do que foram vividas. O filme funciona, emociona, cativa, impacta, e torna-se memorável assim que assistimos aos primeiros minutos. Agora tenho que colocar este filme em grau de comparação com os restantes nomeados aos óscares, isto para dizer que para mim é o menos favorito para vencer na categoria de melhor filme, Provavelmente não me irei esquecer desta história, contudo foram outros filmes que me marcaram mais e que por isso merecem ganhar as estatuetas douradas.


Diogo Ribeiro

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