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Missão: Impossível – Fallout: Parar é Morrer



Há algo na maioria dos filmes de ação modernos que é tremendamente irritante. A amostra de macho man que tem o maior sex appeal do mundo e cuja maior recompensa por dar socos certeiros é ficar com uma mulher lindíssima que fará com que as fotografias de família sejam o retrato de um casal perfeito em termos de beleza. Ou o facto de repetirem o mesmo tipo de sequências que outros atores como Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone ou ainda Charles Bronson fizeram tão bem, sem sequer acrescentarem algo que faça a imitação sobressaltar como algo novo. Mas quando a “ação” é feito de uma maneira exímia, acho que é de louvar.


“Missão: Impossível – Fallout” é o sexto filme na série que se iniciou com Brian de Palma, e desta vez foi assinado por Christopher McQuarrie, que realizou um filme de “Missão: Impossível” pela segunda vez. A evolução da série é notável, o que começou com uma história de identidade manchada e luta pela restituição de estatuto (com aquela famosa e tensa sequência em que Ethan Hunt está suspenso por uma corda e o tempo urge), tornou-se numa visão consistente daquilo que um filme de ação do novo século poderia ser. Neste, as sequências são brutais e assustadoras. O suspense está em alta, quer seja ao saltar de um avião de uma maneira que poderia muito facilmente correr mal, ou o complexo rapto de um criminoso de renome internacional que só funcionará bem se todas as peças do puzzle tiverem sido alinhadas na perfeição, mais um milímetro e iria tudo por água abaixo. É o tipo de filme que não para. Vou corrigir o que disse, em muitas cenas, o ritmo alucinante tem de parar. Christopher McQuarrie sabe que se os peões de xadrez não forem colocados no sítio certo, que os restantes jogadores não poderão avançar de uma forma espetacular. Assim, para cada sequência, ele começa por primeiro ambientar a audiência, fazer com que percebamos os objetivos e aquilo que está em jogo para que o impacto emocional seja espetacular e que sintamos à flor da pele aquilo que a nossa equipa preferida está a sentir. A partir daí, podemos “brincar” da forma mais louca possível e a aventura leva-nos aos destinos mais sensacionais. Não é um simples filme de ação. Na tradição dos filmes de espionagem, vamos desvendando uma teia de mentiras e conspirações que se estendem da ponta de um hemisfério a outro.


Tom Cruise está como sempre, no topo de forma. Não falo somente de forma física, porque mesmo com 56 anos (em 2018) ele faz cada salto, cada pirueta e cada luta violenta como se nada fosse. Falo da sua atuação, ele respira a personagem de Ethan Hunt. O jovem que vimos em “Missão Impossível” (22 anos antes da mais recente entrada no catálogo) cresceu e não só é capaz de resolver os conflitos de uma maneira mais inteligente, como consegue dar-se mais emocionalmente aos outros, outro grande aspeto que torna este filme tão bom. Trata-se do desenvolvimento das personagens, algo que a maioria dos filmes de ação se esquece de usar como arma para tornar as suas histórias em algo mais do que um bando de homens aos murros e que não olham para trás durante as explosões. Torna este aspeto da narrativa em algo tão bom que nos faz sentir parte da equipa. E como não falar nas mudanças do rácio da imagem? Christopher Nolan é conhecido por usar este efeito constantemente nos seus filmes e Christopher McQuarrie também o fez, recorrendo a tal apenas quando o filme o solicitasse. Nas sequências de maior tensão, dão-se estas mudanças para contrapor as diferenças entre certas situações e outras que se passam ao mesmo tempo (falo principalmente de uma das últimas sequências que envolve um helicóptero e os colegas de Ethan tratando de outras assuntos igualmente dramáticos, mas em proporções diferentes) ou para iniciar uma nova sequência que nos alerta sobre a nova missão.


“Missão: Impossível – Fallout” é tudo aquilo que se ouviu falar. É acelerado, é emocionante, faz o coração palpitar e é um triunfo do cinema de ação no mundo da espionagem. Tem os plot twists habituais dos filmes do género, estes que muitas vezes maravilham a audiência ao ponto de acabar por se esquecer do quão fraco o filme estaria a ser até ao momento, levando-a a desculpar qualquer palhaçada devido a meros segundos de surpresa. Mas até esse aspeto que costumo desprezar, está executado na perfeição neste trabalho, tornando-se numa adição ideal para a série e que nos faz salivar pelo próximo filme que Tom Cruise já está a gravar.

Manuel Fernandes

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