top of page
Foto do escritorunderscop3

Monster: “Diz-me com quem andas e te direi quem és”



Monster, é o novo drama disponível na Netflix inspirado no livro com o mesmo nome do autor Walter Dean Myers. A história é sobre Steve Harmon (interpretado por Kelvin Harrison Jr.), um jovem negro de 17 anos.


Negro e morador do Harlem, em Nova York, e estudante de uma escola de elite em outro bairro da cidade, ele acaba por se dar com pessoas pouco confiáveis. Acaba por ser preso por um crime que afirma não ter cometido e passa todo o filme a tentar provar a um sistema judiciário racista.


Kelvin tem uma prestação notável e extraordinária neste filme. É ele que narra do seu ponto de vista, em primeira pessoa, quase como se fosse ele o realizador do filme e tivesse a contar a sua história. Torna-se engraçado porque a narrativa é contada completamente fora de ordem, colocando-nos sempre o ponto que o personagem está a tentar provar: inocente ou culpado? Seria ele um rapaz inocente no sítio errado a hora errada ou envolveu-se com as pessoas erradas?


O velho ditado “diz-me com quem andas e te direi quem és” é praticamente a premissa deste filme. Monstro é o primeiro trabalho do diretor Anthony Mandler. Ele usa e abusa de câmaras fechadas, enquadramentos reflexivos e panorâmico de forma a espremer o que de melhor o seu elenco tem. Tudo o que assistimos é de uma beleza incrível. Mandler demonstra que sabe o que é filmar e que sabe usar a linguagem narrativa. Contudo, o filme por vezes torna-se confuso e perde o foco.


Não conseguimos compreender se de facto Steve teve ou não algo a ver com o crime e os temas são rapidamente abandonados. Outro tema que senti falta de ser abordado foi o conflito interno dos pais com a prisão do filho. Não é percetível o sofrimento ou mostram o que pensam. Apenas retiramos dos seus olhares e expressões aquilo que possivelmente eles estão a passar. Outro aspeto que também poderia ser explorado era a relação de Steve com William King (Rakiam Mayers), o colega que está a ser julgado juntamente com ele, acusado do mesmo crime. Compreendemos que existe mágoa, mas, existe falta de diálogo. Porém, é de salientar que o filme aborda aspetos interessantes sobre o preconceito que a sociedade ainda possui com negros acusados de crimes.


Assim como a curta vencedora de Óscar, "Two Distant Strangers", "Monster" faz com que o espectador questione o sistema judicial racista e das diferenças abruptas que pessoas de outras etnias enfrentam. O discurso deste filme é, sem sombra de dúvida, importantíssimo para representatividade negra e para criticar o racismo. É um filme que muita coisa fica nas entrelinhas, fazendo com o espectador duvide do que realmente deve pensar.


Melanie Rebelo

Comments


bottom of page