top of page
Foto do escritorunderscop3

Moonlight: Três Momentos de Vida


Moonlight é a história de Chiron, um rapaz de Miami que começa a descobrir quem é. Dividido em três atos diferentes, o filme mostra a infância, adolescência e vida adulta de Chiron, como as pessoas à sua volta o tratam ao longo da sua vida, e como a nossa personagem principal constrói a sua própria identidade.


O papel de Chiron é interpretado por três atores diferentes (Alex Hibbert em criança, Ashton Sanders como adolescente e Trevante Rhodes como adulto), um por cada fase da sua vida. A única personagem que também tem este casting diferente é Kevin (Jaden Piner em criança, Jharrel Jerome como adolescente e Andre Holland como adulto), o único amigo de Chiron ao longo do filme, bem como o seu primeiro amor. Todos os atores que interpretam estas duas personagens conseguiram manter uma transição realista entre cada fase da vida, mantendo os elementos base de cada personalidade.


Moonlight é uma análise de personagem íntima, e deixa muito do filme no subtexto. O diálogo é muito realista, com conversas simples e às vezes banais, em que não importa o que dizem, mas sim como. Há um foco em mostrar o que acontece, em vez de dizer isso directamente. Por exemplo, no primeiro ato, o declínio da vida em casa de Chiron não é referido diretamente, sendo representada pelo desaparecimento de objetos como a televisão, com a implicação que Paula (Naomie Harris), tem estado a vendê-los para arranjar droga.


Por falar nisso, a droga desempenha um papel relevante na vida do protagonista, bem como as vidas daqueles que o rodeiam. A sua mãe é viciada, a sua figura parental, Juan (Mahershala Ali), é traficante, e parece que toda a comunidade de Miami está envolvida no tráfico, consumo e venda. Porém, o filme oferece uma perspetiva diferente. O mundo das drogas não é glamoroso, mas as pessoas presas nele são vítimas das circunstâncias. São, geralmente, pessoas decentes numa má situação.


É complicado definir o tema principal de Moonlight. É uma obra muito introspetiva, com conflitos muito mais interiores. É algo relacionado com a identidade pessoal, como a construímos, embora se somos nós que a construímos, ou os outros à nossa volta que o fazem por nós, não consigo perceber. Filmes que confiam tanto no público para interpretar as nuances das personagens têm a desvantagem de esconder demasiado bem a sua mensagem.


Apesar disso, a obra tenta transmitir toda a informação necessária através da cinematografia. Há um foco na cara das personagens, nas expressões faciais que fazem ao falar, transmitindo imensa informação de uma só vez. A câmara frequentemente segue as personagens por longos períodos de tempo. Às vezes, há cortes pelo meio, de forma a realçar a revelação do corte. Um bom exemplo é quando Juan vê Paula a drogar-se num carro: a câmara segue Juan até chegar ao carro, cortando para Paula no momento que Juan bate no vidro.


Moonlight é um filme curioso. Tem uma mensagem bem-escondida entre a cinematografia e o diálogo, embora seja difícil encontrá-la só numa visualização. É uma obra bastante introspetiva, sem grandes momentos de ação. Aliás, os momentos climáticos do filme são resultado de as emoções ferverem até não aguentarem mais. A melhor maneira que posso descrever o filme é uma janela para uma vida. Chiron está a viver, e temos três oportunidades para o ver a crescer, num mundo mau cheio de pessoas decentes.


Filipe Melo

Comments


bottom of page