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Mulan (2020): Releitura de um folclore chinês



Seguindo o plano de adaptar os seus clássicos em filmes live-action, em 2020 a Disney traz ao mundo uma das suas princesas e heroínas: Mulan. Devido a pandemia Covid-19 que obrigou o fecho dos cinemas, o estúdio decide lançar o filme em direto pela streaming Disney Plus.


Contrariamente ao esperado, o filme dirigido por Niki Caro é menos um remake direto da animação de 1998, mas sim uma releitura da lenda sobre Hua Mulan. No filme, quando nos é apresentada a Mulan (em criança interpretada por a Crystal Rao e como adulta por Yfei Liu) compreendemos que ela é a filha indisciplinada de Zhou (interpretado por Tzi Ma) e de Li (Rosalinda Chao). Sua mãe acredita que o pai compromete o futuro da filha ao deixar que ela se comporte diferente das outras meninas, visto que Mulan cavalga pelos campos e tem uma queda para as artes marciais. Para a China, o homem tem um papel de guerreiro e a mulher, de trazer honra para a família através do casamento. Zhou, diz a Mulan que chegou a hora de ela esconder o seu chi (a palavra chinesa que eles usam para designar a força interior), e preparar-se para ser uma esposa e mãe de família exemplar. Um dia, após ataques na rota da seda por Böri Khan (interpretado por Jason Scott Lee), o Imperador (interpretado pelo lendário Jet Li) lança um decreto: formar um exército onde cada família deve enviar um membro do sexo masculino para ingressar no Exército Imperial.


Tendo em conta que Zhou tem duas filhas, cabe-lhe a ele aceitar a chamada, mesmo sendo um veterano da guerra com uma perna ferida. Trata-se da honra que o homem traz à família. Mulan, preocupada com tal atitude do pai e com a possibilidade de nunca mais o voltar a ver, antes de amanhecer, rouba a espada, a armadura e o cavalo e decide partir no lugar do pai. Entra então no Exército Imperial como Hua Jun, um adolescente. Mulan e todos os seus colegas passam por um treino intensivo e rigoroso sob os três pilares da virtude: Leais, Corajosos e Verdadeiros. Não precisamos de pensar muito para compreender que Mulan cumpre apenas dois deles, sendo que vive a mentira de ser um homem disfarçado, não cumprindo assim a virtude da verdade.


A história de Huan Mulan faz parte do imaginário chinês desde a dinastia de Tang (618-907), sendo que a animação não foi tão bem recebida no seio chinês. A China sentiu que animação era algum um tanto estereotipada sobre os seus elementos culturais. Assim, Mulan de 2020 acaba por corrigir muito esses aspetos da animação e faz a verdadeira homenagem as batalhas chinesas. Se estão espera de ver o Mushu, ou até mesmo ouvir as canções que fazem parte da animação, esqueçam. O filme retrata as dificuldades de Mulan no seu treino e o esforço que faz para esconder aos seus traços femininos. Retrata o debate com as consequências da sua descoberta: desgraça e desonra à sua família. Ela possui um chi forte e poderoso, mas nunca se esquece das palavras de seu pai, que lhe disse que o seu chi deveria ser silenciado, porque o chi é para guerreiros.


Por isso Mulan não é nenhum ícone de empoderamento feminino. Mulan, de Niki Caro, é uma história sobre a origem de uma heroína que se está a descobrir a ela mesma, a construir uma identidade e a lidar com o seu lado bom e mau. Mulan inspira-nos a ser fiéis a nós mesmos independentemente do que a sociedade ditará. É certo que não tem nada a ver com a animação. Se formos ver o filme com a nostalgia e a saudade da nossa Fa Mulan de 1998 é certo que não vamos gostar do filme. Mas se olharmos para ele como uma homenagem as grandes batalhas chinesas e para uma interpretação de uma lenda importante para a China, é uma bela história, recheada de família, cumplicidade, respeito e tradição, merecendo uma oportunidade de ser vista.


Melanie Rebelo

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