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Nebraska: Quem foram os nossos Pais



É fácil esquecer que os filhos são pessoas e não uma extensão dos pais. Por vezes é difícil aceitar que eles crescem e que já não são crianças, mas sim adultos com uma personalidade própria. O contrário também acontece, os filhos também se esquecem que os seus pais são pessoas e não apenas “pais”.


Viajar para Lincoln, Nebraska é a grande ambição de Woody Grant, homem idoso e de grande simplicidade. Se lhe dizem algo, ele acredita. A sua idade também já não ajuda na cognição e quando recebe uma carta a dizer que recebeu um milhão de dólares e que basta ir a Lincoln para os reclamar, ele não pensa duas vezes e para Lincoln será o caminho, quer esteja a uma distância superior a mil quilómetros e tenha que ir a pé.


O seu filho, David, o menos bem-sucedido da parelha de irmãos, tentar dissuadir o pai a abandonar esta ideia chanfrada. É óbvio que ele não ganhou nada e que o prémio é uma mera piada, um embuste com o propósito de atrair pessoas como o patriarca desta família a tomar más decisões. Mas Woody não desiste e volta sempre a retomar caminho para Lincoln. Sendo que nesta altura, David pensa no quão mau será deixar um homem velho com poucos anos pela frente ter a sua última grande fantasia?


“Nebraska” torna-se, portanto, num importante testamento da vida. Através da personagem de David, vamos conhecendo melhor quem foi Woody. Inicialmente apenas o vemos como um homem velho, já com algum grau de surdez, com a sua cabeça a dar as últimas. Já nem consegue raciocinar direito e acredita veemente que ganhou uma lotaria, e que não há mais nada a fazer senão reclamar o prémio. Mas quando David visita a cidade natal dos seus pais (sendo que mais tarde, a sua mãe e o seu irmão, Ross, também se juntam à viagem), começamos a ver o homem com outros olhos. Vemos o rapaz jovem que teve noites de paixão, o adolescente assustado que foi levada para a Guerra da Coreia e que voltou de uma forma diferente, o homem que fez más decisões e cometeu erros que desejava nunca terem acontecido, todo um leque de eventos que se concluíram na personagem que temos à nossa frente.


Neste género de filmes, a estrada torna-se na metáfora perfeita para o passar do tempo. Percorrem-se longos quilómetros, assistindo à passagem do tempo. Nas várias paragens, vamos descobrindo partes de nós e dos outros que não conhecíamos e que sem ação da nossa parte, ou vontade de ir mais longe, seriam para toda a eternidade mais uma rota que vale a pena ser explorada e que se manteria envolta de mistério, uma incógnito que constituiria para a eternidade um monumento de um mundo perdido. É uma metáfora excelente para um processo que a todos aflige, quer as suas vivências sejam infelizmente mais curtas ou um longo desígnio acompanhado das maleitas da senioridade.

Manuel Fernandes

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