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Nomadland: Uma Introspeção Sobre o Significado da Vida

Atualizado: 30 de abr. de 2021



“Nomadland” é daqueles filmes que erguem as nossas emoções a um nível para o qual não estamos preparados. Uma verdadeira viagem de reflexão que dura no mínimo 108 minutos, até porque é garantido que vão ficar a pensar no que viram durante uns tempos. Aconselho vivamente que adotem uma postura sem qualquer tipo de preconceito ou dúvidas face ao que vão visualizar de modo a alcançarem uma experiência completa, isto porque o filme utiliza elementos não palpáveis e que podem dificultar o escrutínio da mensagem.


Esta longa metragem realizada por Chloé Zhao segue o trajeto de Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos que percorre as estradas americanas na sua carrinha como se fosse uma nómada moderna, colocando a sociedade convencional fora da sua vida. A protagonista adota esse rumo para sua vida porque a cidade onde vivia no Nevada colapsou após o fecho da fábrica que era a origem daquela zona rural, onde a própria trabalhava. Nesta última frase omiti uns elementos relevantes que justificam a sua decisão, apenas para vos deixar descobrir o ponto fulcral que mudou a vida da personagem principal.


A jornada de Fern não começa exatamente no início e quando o tempo de tela se esgota não existe um final declarado. Isto acontece em consonância com as caraterísticas da personagem que procura um significado para a sua vida, e o espectador conhece-a num certo ponto dentro dessa busca de respostas. E tal como se passa na realidade, em que procuramos sentido e rumo no nosso percurso, o tempo tem um papel sempre presente e que se pode estender por anos a fim, logo, só faria sentido que o filme não possuísse um desfecho.



No decorrer da história vários temas relevantes são abordados como: desemprego, fragilidade económica, desrespeito de parcelas da sociedade. Essas temáticas marcam a nossa realidade e conseguem apelar muito rapidamente às emoções do espectador, que certamente não ficará indiferente à abordagem crua que o filme coloca em prática. Analisamos tudo o que o filme nos oferece à medida que Fern lida com esses assuntos. Eu coloquei-me constantemente no lugar da protagonista e considero que as suas reações são fiéis e naturais, sem nenhum tipo de esforço, isto graças à fantástica performance de Frances McDormand. A atriz coloca uma garra humana incrível à sua personagem e confere um realismo complexo na narrativa.


Outro fator determinante é a própria América, sempre muito bem retratada no que toca às suas paisagens apaixonantes, através de um trabalho preciso de Chloé Zhao. A realizadora utiliza a iluminação natural para os seus planos, sem medo de enquadrar a câmara apenas no objeto que pretende acompanhar. Sem esquecer os planos abertos que nos fazem meditar sobre a quase insignificância do ser humano no meio dos elementos da natureza que reduzem as personagens à minudência, a uma eterna solidão, mas ao mesmo tempo ergue o individualismo de alguém que escolheu uma vida fora dos padrões impostos pela sociedade.


Por estes motivos entendo perfeitamente que “Nomadland” tenha conquistado os principais prémios do Festival de Veneza e de Toronto, e para mim é um dos candidatos principais aos globos de ouro e aos óscares. E espero que não se fique apenas pela nomeação a melhor filme, pois a cinematografia/fotografia merece ser enaltecida, sem esquecer claro outras categorias principais como melhor atriz e realização. Claro que é precoce afirmar de peito cheio que merece todos os prémios, mas refiro-me apenas à nomeação do filme em várias categorias. E nem preciso de ser eu a defender o filme, pois ele fala por si ao conseguir juntar todos os elementos importantes para criar um filme completo, e com uma grande capacidade de produzir reflexões cirúrgicas repletas de introspeção, existencialismo e contemplação. Um filme que aborda na sua essência a conexão humana através de um passeio belo pela natureza.


Diogo Ribeiro

Yorumlar


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