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Parque Jurássico: Como Fazer um Blockbuster


Steven Spielberg e blockbuster são palavras que ficam muito bem juntas. Spielberg inclusive foi o pai do blockbuster como fenómeno cultural quando o seu filme “Tubarão” trouxe multidões enormes a fazer filas longuíssimas, somente para entrarem na sala de cinema e poderem ver o terror que é sentir-se perseguido por uma besta que se esconde no oceano.


No entanto, para os estúdios, a palavra blockbuster é um simples sinónimo de dinheiro. Muita gente no cinema, significa muitas receitas nas bilheteiras e um saldo largamente positivo nas carteiras. Não é de admirar que a maioria dos estúdios esteja constantemente a explorar as suas franquias ao máximo, até ao ponto de rotura total. Todos os anos há um novo filme a tentar recriar o sucesso dos maiores blockbusters da História para satisfazer os desejos dos produtores gananciosos! Sou muito crítico deste processo, mas compreendo que Hollywood seja um negócio. Sem receitas, não se podem fazer mais filmes. No entanto, é impossível ser passivo quando a qualidade é trocada pelo simples desejo de uma máquina de produção em série tal e qual a de Henry Ford.


Aqui entra Steven Spielberg. Ele é conhecido por seus filmes que parecem enormes, maiores do que a própria vida, e que atraem as audiências comerciais. Porém, ao contrário de muito filmes sem qualquer toque pessoal e artístico, Spielberg não troca as suas capacidades como autor por um simples cheque chorudo. Os seus filmes são tão prezados porque, para além de tornarem os elementos da nossa imaginação em algo real, ele fá-lo com rigor, criatividade e mestria cinemática. “Tubarão”, “Encontros Imediatos do 3º Grau”, “E.T. - O Extra-Terrestre”, “O Resgate do Soldado Ryan” ou “Ready Player One: Jogador 1” são alguns dos títulos que encaixam nestes critérios, dentro do catálogo de filmes de Steven Spielberg. Existe outro que também se enquadra neste grupo e que analisa bem esta relação entre criação artística de um autor (ou científica neste caso, mas serve bem o propósito) e o desejo monetário daqueles que puxam os cordelinhos.


No Parque Jurássico, John Hammond fez aquilo que parecia ser possível apenas em sonhos, criou um parque temático cheio de dinossauros. Não de papel ou mecanizados, estes dinossauros são absolutamente reais. Tudo possível graças ao seu engenhoso processo de clonagem. E para certificar a segurança do parque, o matemático Ian Malcom, o paleontólogo Dr. Alan Grant e a paleobotânica Dr.ª Ellie Sattler são os experts convidados para levar a cabo essa tarefa. Temos de um lado a paixão por esta área da ciência, e no outro a exploração comercial dela mesma. John Hammond não tem propriamente o desejo louco de ganhar milhões com o seu parque, mas sim um sonho impossível, e fará tudo ao seu alcance para o fazer, nem que tenha de gastar a sua fortuna. E é nesta demanda tresloucada que reside o falhanço terrível do Parque Jurássico, quando a obsessão domina a obstinação, a mente é toldada e perde o bom-senso.


Spielberg faz em “Parque Jurássico” o brilharete de mexer na criança dentro de nós e mostrar-nos que ainda existem locais para sonhar, para a emoção e para a adrenalina. Fá-la de uma maneira gigantesca e mesmo assim, não perde a qualidade que traz ao cinema como autor em prol de algo fácil e que trarás as pessoas a consumir tal como um enxame de abelhas que segue incessantemente à procura do mel.

Manuel Fernandes

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