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Primeira Dissertação sobre COVID-19 em Portugal (domingo, 22 de Março)



Quando me solicitaram que escrevesse algumas palavras sobre este tema, confesso que não sabia por onde começar: se pelo problema sanitário/infecioso, pelo problema sociológico, ou pela questão económica/financeira.


Todos sabemos qual a origem da doença, a sua forma de transmissão e meios de combate à mesma. Mas o que não sabemos, é o impacto na nossa sociedade pelo efeito de perda de inúmeras vidas humanas prematuramente, pelo sofrimento dessas mesmas vidas como pelo sofrimento das famílias que por motivos relacionados com a forma de contágio da doença, não podem acompanhar o seu familiar ou o seu amigo na doença, e ainda por último, não o poder acompanhar aquando do seu falecimento, nessa ultima caminhada de perda e de memória que é o funeral.


Não sou daqueles que possa objetivamente implicar a R.P. da China como responsável do surto e muito menos embarcar nas conversas que foram delineadas com outros propósitos; que é um facto que a sua origem foi na China é inegável, mas outras doenças e epidemias começaram noutros países e não ouvi qualquer discurso a denominar como “demónios” os governos desses países.


Passando ao segundo problema, o impacto no comportamento sociológico, pode-se constatar – só referindo ao caso português – que a população na sua grande maioria esteve à altura daquilo que foi solicitado pelas autoridades; claro que existem sempre os ignorantes, os irresponsáveis e aqueles que ainda pensam que o seu Deus irá sempre salvá-los, estes felizmente são em número reduzido. Ainda assim, temos até à data de hoje 22 de março, um número de 1600 pessoas infetadas.


Este número possui algo de assustador, na minha modesta opinião é a altura em que é atingida, passo a explicar.


Em primeiro lugar, se o período de incubação do vírus é de até 14 dias, quer dizer que estas pessoas foram infetadas desde o dia 7 de Março até ontem, ora se as escolas e outros estabelecimentos, encerraram as atividades no dia 13 e o comércio na sua esmagadora maioria, encerraram as atividades no passado dia 19, dia em que foi considerado o Estado de Emergência , vamos ter um número de infetados a ultrapassar largamente as 25.000 pessoas no final do mês.


Mas a questão que se coloca, é o porquê deste número estar a subir diariamente de forma irregular, ora sobe 30% num dia, e no outro é de apenas 25%, diretamente relacionado com o nº de pessoas que realizam o teste no setor privado, e que acusando positivo, os resultados são posteriormente validados pelo Instituto Dr. Ricardo Jorge 1 ou 2 dias após a sua realização, isto significa que hoje serão muitos mais as pessoas infetadas do que aquelas que são reportadas nos briefings do Ministério da Saúde.


Numa segunda instância, qualquer número que seja, seria menor se o Governo, e vou ser corrosivo o suficiente sem baixar o nível da escrita, tivesse CORAGEM, ASTÚCIA e VISÃO, de modo a minorar todos os acontecimentos que estávamos a observar no norte de Itália, senão vejam bem os factos: a ministra do Ministério da Saúde dizia ao país no inicio de Fevereiro que o SNS estava preparado para qualquer ocorrência relacionado com o COVID-19, ao fim de um mês, estavam os médicos, os enfermeiros, auxiliares de enfermagem e técnicos de apoio nos hospitais centrais, a reportar a falta de material de apoio, mas como não o poderiam dizer em público para não alarmar a população, a Sra. Ministra ia dizendo que estávamos a aprender com o sucedido em Itália e aperfeiçoar as medidas a tomar, mas não aprendeu como não o fez atempadamente. Não se percebe como em fevereiro depois de se constatar o ritmo exponencial do nº de infetados em Itália, não se precaveu na altura em reforçar stocks de equipamento e solicitar o reforço do corpo clínico como exemplo a disponibilidade de médicos reformados…Não o fez, quem teve essa medida foi o Presidente da Camara Municipal do Porto em parceria com outro autarca do país, e em consonância com a Administração do Hospital de S. João, sendo a outra medida foi comunicada pelo Bastonário da Ordem dos Médicos.


Neste sentido, a Ministra que conhecia a realidade como conheciam os poderes intermédios da ARS do Norte (atenção que ainda são dezenas que trabalham (será?) nestes patamares de funcionários públicos entre as linhas dos hospitais e a centralidade da tutela) deviam conhecer e reportar, mas nada fizeram!!! A 21 de março, temos vários pedidos de pessoal de serviços do Hospital S. João a pedir mantimentos/alimentos para eles próprios porque eles já não tinham como se alimentarem. Eu pergunto como é isto possível, se a Ministra que ainda hoje informou que 80% dos infetados estavam a ser acompanhados em casa, e se assim é, apenas 20% dos infetados (320 pessoas) estavam internados em todo o país, e como se explica que já não existam condições para internamento e tratamento dos doentes? Não existe material como luvas, máscaras, batas para os funcionários das UCI-Unidades de Cuidados Intensivos e de algumas urgências? E noutros casos não existe alimentação para a classe de médicos e enfermeiros? Alguns médicos trabalham 4,5, e 6 dias seguidos sem ir a casa devido ao perigo de contágio para com os familiares, estando a ir descanar em hotéis. Quando temos hospitais praticamente novos como em Vila do Conde (hospital do Sr. Do Bonfim) e na Beira Alta, em que se podia encaminhar ou inclusive fazer a triagem e o internamento, e a Sra. Ministra não pede ajuda ao setor privado? Porquê??? Apenas por dois motivos, orgulho, porque ela não aceita o setor privado na saúde, e por completa incompetência no exercício do cargo!


Sobre este tema, apenas tenho de enaltecer e agradecer o comportamento de todos aqueles que trabalham nos hospitais e centros de saúde, bombeiros e no INEM, que são aqueles que trabalham mais perto com esta perigosa realidade. Saliento também a disponibilidade de médicos reformados, bem como enfermeiros que se encontram desempregados, que mostraram disponibilidade total na colaboração com o SNS na luta contra esta luta desigual.


Muito mais tinha para dizer sobre a displicência da postura do governo , leia-se primeiro ministro e ministra da saúde e não esquecendo a Sra. Diretora Geral da Saúde que em Janeiro passado dizia que “…era excessivo vir a ocorrer contágio em Portugal”, nas tardias atitudes e medidas para precaver tudo isto que está a ocorrer na nossa sociedade, senão vejamos somente dois exemplos: apenas esta semana que findou se começou a efetuar testes de temperatura aqueles de chegavam ao nosso país pelos aeroportos, navios de cruzeiro, comboio etc… sendo que noutros países, principalmente no medio oriente, já o faziam em janeiro e fevereiro e, no caso inicial de Felgueiras, não terem efetuado um cerco sanitário como ocorreu em Ovar, esta por iniciativa da camara municipal.


Em conclusão, e infelizmente irão dar-me razão, tudo isto vai resultar num verão bem mais negro do aquele ocorrido em Pedrógão, ninguém da tutela vai assumir responsabilidades, a culpa não é de ninguém, é uma situação nova blá, blá, blá…É verdade tudo o que disse, era inevitável a ocorrência de mortes, de infetados, mas a forma como o governo atacou a situação e completamente desajustada no tempo, iria resultar numa menor incidência de contágio e melhor preparação do SNS.


Na sequela da economia, mais uma vez as medidas apresentadas durante esta semana pelo Primeiro Ministro e pelo Ministro da Economia, demonstram a falta de coragem para enfrentar uma crise económica/financeira sem igual neste século. Apenas dilataram no tempo o pagamento de impostos às empresas por mais 3 meses, pergunta-se: como é possível às empresas, principalmente as micro e pequenas empresas que representam mais de 85% da atividade comercial deste país, poderem suportar impostos depois de estarem 1,2 ou 3 meses com atividade encerrada, tendo que suportar durante esse tempo o custo de salários, e só me refiro a estes, se não tiveram receitas no período de encerramento. Será que estão agora preocupados com deficit (Centeno obligé), e se esquecem que se não mudarem as soluções com injeção direta – perdão de TSU durante 3 meses, do custo de eletricidade, água etc… às empresas que estiveram encerradas, para daqui a 3/6 meses o número de desempregados inscritos nos IEFP subir em mais de 300 mil pessoas? e o custo com os subsídios de desemprego a disparar tipo linha COVID-19? Isto irá sobrecarregar o orçamento retificativo; lembrem-se somente das agências de viagem e todo o setor de hotelaria/restauração onde estão empregues mais de 200 portugueses. Sabendo que a EU deu carta branca para a injeção de capital na economia, e os países estarem assim desobrigados de cumprirem as regras orçamentais as quais estavam obrigados, qual a razão deste governo não o fazer?


Várias medidas políticas económico financeiras implementadas com injeção de capital na economia como em França, Alemanha, El Salvador e EUA a título de exemplo, mas em Portugal, tal como no pensamento socialista europeu, executa-se sem planear, aguarda-se pelos resultados para depois agir. Meus caros, depois da 2ª Guerra Mundial, foi implementado um Plano Marshal na Europa, será que estamos à espera que sejam os americanos ou chineses que nos vão apoiar nesta europa que se diz unida, mas na prática cada um pensa no seu país, e não são solidários, e vamos continuar atrasados na tomada de medidas concretas e dinamizadoras da economia?


Muito mais haveria dizer, sobre a questão do encerramento de escolas, universidades, métodos de ensino e por aí fora. Não obstante, para este primeiro domingo de análise do efeito e consequências do COVID-19 em Portugal, ficam estas minhas reflexões, sem nunca esquecer a primeira frase de todos os nossos dias doravante: “Olhe por si e pense nos outros; se os outros também o fizerem, também estão a cuidar de si”.


Augusto Manuel Ribeiro

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