O que mais gostamos no mundo do cinema é sermos surpreendidos por um filme que desafiou as nossas expectativas, quer sejam baixas ou altas. Obviamente que se esperarmos pouco ou até nada de uma certa longa torna-se mais fácil garantir a nossa admiração. Foi nestas condições que iniciei a visualização do filme “Promising Young Woman”. Desconhecia o tipo de história, os atores e nem sonhava que iria ver um filme de calibre para óscar. À primeira vista parece um filme normal que não conseguirá percorrer caminhos mais complexos, mas desenganem-se completamente, pois a narrativa prende qualquer um, sem esquecer a fantástica estética que transborda e nos preenche o olhar.
A história passa-se numa cidade dos EUA, mas o local nem interessa pois isto poderia ser contado em qualquer lugar do mundo. Seguimos Cassie, uma ex-estudante de medicina que, traumatizada por algo que aconteceu à sua melhor amiga chamada de “Nina” no ano anterior, decidiu embarcar numa demanda de aterrorizar homens que tentam abusá-la enquanto está falsamente bêbada. Aliás, é neste contexto que conhecemos a protagonista. Cassie parece desejar um certo alargar de consciência dos mais ignorantes para que estes sintam na pele uma pequena amostra do que a sua amiga sentiu. Por falar nela, Nina é uma personagem que não tem cara, nem flashbacks que mostrem o que aconteceu no ano anterior à história que vemos e nem uma simples fotografia da própria é visível nos cenários. Considero que este toque acrescenta uma grande mística ao filme, pois todo o motor do filme é Nina, a sua morte marcou de tal maneira Cassie ao ponto de esta largar quase tudo. No entanto, as ações de Cassie podem ter o tal motivo nobre de chamar à atenção as pessoas, mas será que por detrás dessas atitudes não existe apenas uma sede de vingança? Deixo esta questão no ar para vos provar que este filme coloca estas dúvidas de forma mais subentendida para nos motivar a analisar cada detalhe.
Um dos pontos fortes deste filme é a cinematografia que nos deixa numa zona de conforto muita vasta. O ecrã preenche-se com tons de azul e rosa muito chamativos, numa estética que me apetece de designar por “estética de doçaria”, isto porque quase todos os locais por onde Cassie passa transportam-nos para uma loja de doces, onde deslumbramos cada cor com concentração máxima. Até digo mais, para mim bastou apenas ver duas imagens do filme para me conquistar de imediato.
Podia ir mais além no que diz respeito à narrativa, mas isso iria estragar-vos a experiência. Todavia, peço que não deixem o filme a meio, e afirmo isto porque na minha experiência chegou a um certo momento em que fui capaz de adivinhar algo inerente à história, que até é acessível de prever na verdade, mas não parem em nenhum momento até aparecerem os créditos pois o final vai com toda a certeza deixar qualquer um de boca aberta. Algo que é uma força deste filme é a maneira como garante a representatividade através da história. Tal como vos disse, esta é a história de Cassie em homenagem à Nina numa cidade dos EUA, mas em vez de ser uma ficção torna-se real, isto porque existem imensas histórias verdadeiras com os mesmos alicerces daquela que vemos filme. Esta caraterística é muito transparente e é impossível não pensarmos nela com algum aprofundamento.
No fundo, foi um dos filmes que mais me surpreendeu nos últimos tempos e que certamente que não vou esquecer tão cedo. A experiência que esta longa-metragem me proporcionou foi perfeita por várias razões: vi o filme sem saber o que me esperava; dois frames foram suficientes para me conquistar; a história agarrou-me completamente; e para não bastar o final deixou-me com uma sensação arrebatadora. Sem esquecer a fantástica performance de Carey Mulligan, que é tudo o que tem de ser e coloca a personagem em diferentes níveis de representação, pois esta personagem muda as suas caraterísticas ao longo da história, mas também não é daquelas personagens que vai subindo ao longo filme. Cassie torna este filme numa verdadeira montanha-russa complexa, com diferentes alturas e velocidades, e a personagem tanto acelera como trava de acordo com o que acontece na sua vida. Recomendo vivamente este filme e fico muito feliz pelas nomeações que somou nos óscares deste ano.
Diogo Ribeiro
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