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Room: O Trauma pelos Olhos de uma Criança

Atualizado: 7 de dez. de 2020


Jack (Jacob Tremblay) é um rapaz de cinco anos que vive com a Mãe (Brie Larson) num quarto pequeno, que chamam de Quarto. Sempre viveu lá, desde que nasceu, vendo as pessoas imaginárias na televisão, brincando com os seus brinquedos, como a Colher, e a ver o céu através da clarabóia. Às vezes, são visitados pelo “Old Nick” (Sean Bridgers), um homem que lhes traz comida e presentes. Mãe evita ao máximo que Jack conheça “Old Nick”, embora ele não entenda bem o porquê. Mas o mundo de Jack vai mudar drasticamente, porque, não podem viver no Quarto para sempre...


Room é um drama de 2015 sobre uma criança com origem invulgar, com o mundo a ser examinado pelos seus olhos. O filme é baseado no livro do mesmo nome, inspirado por um caso de rapto na vida real. É uma perspetiva interessante, ver uma situação tão horrível pela perspetiva de um rapaz inocente que ainda está a descobrir o mundo.


Aliás, grande parte do apelo é esta perspetiva diferente. Como Jack não conhece o mundo exterior, apenas o Quarto, a maneira como interpreta aquilo que vê acontecer à sua volta é naturalmente diferente do público. Nós sabemos que Jack e Mãe estão numa situação horrível, mas Jack não vê nada de errado porque é tudo o que ele sabe. As justificações que ele encontra são realistas para uma criança da idade dele, especialmente com a Mãe a reforçar essas crenças ao responder a qualquer pergunta que ele tenha.


Ao nível da cinematografia, Room faz um ótimo trabalho de mostrar o Quarto maior do que realmente é. O sítio em que estão é descrito como pequeno, mas, por aquilo que vemos no início do filme, é como se fosse um mundo inteiro por si só. Depois voltamos a ver o Quarto noutra luz, mais à frente no filme, mas não posso dizer muito sem dar spoilers.


A narrativa está muito bem dividida, com as duas metades a representar diferentes fases da vida de Jack, e a navegar com perícia os temas de infância, trauma, e as repercussões de uma situação tão horrível na mente de uma pessoa. Como Jack é o protagonista e o narrador, é interessante ver essas repercussões pelos seus olhos, como os dias que Mãe está tão deprimida que não consegue sair da cama. Jack apenas diz que às vezes a Mãe tem dias em que ela “desaparece”, mas o público sabe aquilo que realmente é.


Na verdade, toda a relação de Jack com a sua mãe é interessante: Mãe é uma ótima mãe, apesar da situação em que se encontra, e é mostrada como um ser humano com falhas. Jack adora-a e confia nela, mas ainda é uma criança, fazendo birras e dizendo que a odeia em certos momentos. É uma relação complexa, mas cativante, em que nenhum deles está errado, apenas são vítimas das circunstâncias em que se encontram. Larson e Tremblay são incríveis nos seus papéis: Larson mereceu o Óscar, e, na minha opinião, Tremblay deveria ter tido pelo menos uma nomeação, por ter conseguido representar um papel tão difícil sendo tão novo.


Room é uma obra enternecedora que nos faz chorar, com a relação mais interessante entre mãe e filho que já vi, uma narrativa realista e clara e uma mensagem concisa. Há imenso subtexto que é transmitido ao público de maneira extraordinária, sem nunca dar demasiada informação através do diálogo. Room trata o seu público como adultos capazes de fazer as inferências necessárias para história fazer sentido. Acima de tudo, é uma história feliz, e vemos uma criança a crescer, a adaptar-se e a ultrapassar os traumas que vive. É de uma inocência e pureza inimaginável, e não deixa ninguém indiferente.


Filipe Melo

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