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Serenata à Chuva: Para sorrir


Normalmente, procuro explorar os temas por trás dos filmes. A forma como refletem situações íntimas/pessoais, político-sociais, ideias ou a intencional ausência delas mesmas em detrimento da estética ou aventura que os filmes podem proporcionar. Mas desta vez, tentarei, na medida do possível, afastar-me dessa forma de escrita pois simplesmente quero falar de bom-humor e de aproveitar as experiências.


“Serenata à Chuva” é um dos mais celebrados musicais de Hollywood e atrevo-me a dizer que da História (algo que curiosamente parece ter passado ao lado à Academia da altura). Falar deste (de forma redundante talvez) é falar sinonimamente da música que lhe ofereceu o título, “Singin’ in the rain”, que, curiosamente, não teve a sua origem nesta obra, sendo, no entanto, mais reconhecida na voz de Gene Kelly (ou de Malcom McDowell para os fãs de Kubrick) enquanto vagueia nas chuvosas ruas de Hollywood, interpretando uma das mais famosas coreografias da História do cinema.


Inserindo-se em Hollywood dos anos 20, retrata a passagem do cinema mudo para os mais impressionantes “talkies” e como a evolução do negócio tem uma pesada e dolorosa influência nas suas estrelas cuja pantomima deixara de ser adequada para a tela (para os interessados, recomendo “Crepúsculo dos Deuses” e “O Artista” que também abordam muito bem este tópico). Narrativamente, o filme segue a estrutura dos amados musicais da Época Dourada de Hollywood – são-nos dadas personagens carismáticas, apresentadas como bastante bem-sucedidas, algo só reservado para os melhores, e eis que surge um obstáculo que poderá comprometer as suas ambições (e quase o consegue). Mas fruto de muito trabalho, esforço, reconhecimento das nossas fraquezas e forças dos outros, ultrapassa-se tal problema, atingindo o belo final feliz. Não esquecendo também o interesse romântico que é introduzido de maneira algo caótica e que se inicia como uma relação cheia de diferenças irreconciliáveis, acabando por evoluir para algo mais belo através da aceitação dessas diferenças para encontrar as semelhanças. Parece que estou a descrever algo bastante genérico e que seria facilmente esquecido com o tempo, mas é certo que isso não aconteceu e a resposta para tal facto é bastante evidente. O filme transborda de paixão pela música e pela dança, pelo sentir-se bem e pela expressão emocional. Gene Kelly é absolutamente radiante e hipnotizante. Ver as tão famosas coreografias é um ato incansável e inesquecível.


Contrariamente a estas sensações, por vezes, encontramo-nos perdidos a “admirar” a infelicidade da vida e sem encontrar algo que nos remeta para um rumo dito “bom”. Nestas alturas, existem coisas que simplesmente nos fazem esquecer momentaneamente todo o mal e entrar num sonho cujo resultado é um inevitável sorriso na cara. “Serenata à Chuva” tem este efeito poderoso combinando várias formas artísticas concebidas com o propósito final de chegar à simples, encantadora, elegante e fascinante ideia que é a felicidade. E aqui poder-se-ia cair no erro de emoções fáceis e baratas sem qualquer impacto intelectual com o objetivo de desviar as atenções de verdadeiras temáticas que realmente interessam e são dignas da nossa atenção. Mas, é da minha palavra e garantia de qualidade que tal não acontece. A abstração para coisas mais felizes e divertidas é merecedora da nossa atenção da mesma forma que as de menor ordem no espetro de emoções, não sendo isto um ultimato de que a euforia deve ser sempre consagrada em detrimento da tristeza pois existe algo de espetacular na variação entre toda a dispersão emocional e na compreensão da mesma sem se deixar cair no abismo que excessos podem ter. “Serenata à Chuva” não nos diz que não existem problemas ou que não nos possamos sentir pior. Pelo contrário, as suas personagens também sofrem, mas é-nos dito que face a estes que mostremos alguma reação para atingir o melhor desfecho possível. E se vamos reagir, pelo menos que o façamos da forma mais digna de nós mesmos com alguma comédia associada, no caso dos nossos protagonistas é através da musicalidade.


Não me alongarei muito mais pois com esta pequena análise, queria essencialmente focar na magia de nos deixarmos contagiar pela arte do cinema. Ver Debbie Reynolds, Gene Kelly, Donald O’Coonor e Jean Hagen juntos é uma experiência acelerante! As cores vibram e dão imensa vida aos cenários espetaculares nos quais as sequências musicais funcionam como uma escapatória da vida. Assim, fica então a sugestão daquilo que será uma boa forma de simplesmente abstrair da realidade e apreciar algo de profunda elegância e classe no que toca à arte. Para ver pela primeira vez ou para rever pela milionésima. Se simplesmente precisar de rir ou dar aquele pequeno sorriso que os menos dados ao riso esboçam para não mostrarem alguma fraqueza, nada como pegar no guarda-chuva e face a um dia de chuva, dançar e cantar como se não houvesse problemas no mundo! Ou, mais fácil, ver “Serenata à Chuva”.



Manuel Fernandes

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