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Silêncio: Uma Prova de Fé



Desde os inícios da Humanidade que a arte é usada como forma de expressão pessoal e coletiva. O cinema permite abordar uma multitude de temas, a fim de os poder difundir com os outros, de uma forma inigualável (o mesmo pode ser dito para outros formas de expressão artística). Martin Scorsese utilizou o cinema já por várias vezes para refletir sobre a sua fé. No seu primeiro filme, “Quem Bate à Minha Porta?”, explorou os sentimentos de culpa associados ao cristianismo na segunda metade do século XX. Em “A Última Tentação de Cristo”, recorreu a uma versão mais humana de Jesus Cristo (do que as outras representações noutros meios artísticos) para compreender os conflitos internos provenientes da religião. Em “Silêncio”, a fé é colocada à prova.


O que significa então ter fé? O que é que prova realmente se somos crentes? Estará mesmo Deus a ouvir-nos? Todos aqueles educados religiosamente ou que procuraram compreender alguma religião, terão tido a certa altura das suas vidas, introspeções que os levaram à dúvida existencial teológica. Os ensinamentos básicos são tidos como verdades absolutas, mas no momento em que se instala a dúvida, tudo muda. Se em nós mesmos não conseguimos encontrar uma resposta que nos satisfaça o espírito, então talvez a solução estará nos outros, nos quais se inclui o cinema.


Voltemos atrás no tempo, para o século XVII. Curiosamente, para os portugueses, esta é uma história que ressoará mais facilmente do que para pessoas de outras nacionalidades. Conhecemos muito bem o processo de difusão do Cristianismo pelo mundo todo por parte dos lusos, e como encontraram, no Japão, fiéis que aceitaram de bom grado a palavra passada e se converteram ao catolicismo. Porém, as guerras religiosas também foram (e são) algo proeminente na História, e houve um processo de perseguição aos japoneses convertidos ao catolicismo e que abandonaram o budismo. É neste período da História que se passa a trama.


Apesar de falarem em inglês, os nossos protagonistas são padres jesuítas portugueses. Os dois homens, Sebastião Rodrigues e Francisco Garupe, são informados da renúncia à fé do padre Cristóvão Ferreira, uma notícia que não aceitam de bom grado e tomam como uma calúnia passada de boca em boca. Partem para o Japão na esperança de encontrar Ferreira e descobrir o que realmente lhe aconteceu. E apesar do enredo seguir a dramatização de eventos históricos, não é com o objetivo de contar uma história e explorar o passado que Martin Scorsese escolheu fazer este filme (um projeto que esteve a desenvolver durante 25 anos e sem os objetivos comerciais de outros filmes seus), mas sim para levar a audiência a explorar as suas crenças e testá-las, da mesma forma que acontece ao protagonista do filme.

Manuel Fernandes

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