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Sorry To Bother You: O Absurdo do Capitalismo


Cassius “Cash” Green é um homem com dificuldades económicas, profundamente insatisfeito com a sua vida, desejando deixar a sua marca no mundo. Após conseguir um emprego como telemarketer na Regalview, começa a subir na carreira à custa da sua “voz de branco”, conseguindo angariar cada vez mais clientes. Com uma greve a aproximar-se, Cash tem de decidir se continua a trabalhar de acordo com as políticas empresariais de Regalview, ou lutar pelos seus direitos como trabalhador.


Sorry To Bother You é a estreia do rapper Boots Riley como diretor. Uma obra absurdista de ficção científica, o filme é uma crítica nada subtil ao capitalismo e as suas facetas mais podres e nefastas, num mundo em que mão de obra barata é garantida através de contratos vitalícios que garantem apenas o absolutamente necessário para o trabalhador.


Lakeith Stanfield é excelente como Cassius Green, mostrando perfeitamente o que abdicamos para sermos aceites e sermos pessoas de sucesso. É ele quem carrega o filme, ao ser cada vez mais egoísta e alienar as pessoas à sua volta na procura da oportunidade de deixar a sua marca no mundo.




O filme em si, por ser mais esotérico, pode não agradar a todos. Tem o particular dom de deixar quem o vê sem palavras, ao ponto até de brincar com os sentimentos do público. Sorry To Bother You não respeita certas normas narrativas, levando a uma montanha-russa emocional em que aquilo que prevemos nunca é confirmado à primeira, brincando assim com as nossas expectativas.


A metáfora é bastante óbvia, por vezes. Não digo que não é uma mensagem necessária, e a omnipresença do tema do capitalismo ajuda na coesão do filme, mas há uma revelação no terceiro ato que parece ser demais, mesmo tendo em conta a estética absurdista da obra. É uma entrada brusca para o mundo da ficção-científica algo desconcertante. O final do filme também não ajuda muito, sendo uma revelação deprimente, repentina e desnecessariamente cruel para o protagonista. Há uma cena pós-créditos que atenua este aspeto, mas não é por muito.




Há algo estranho na edição do filme. Não consigo apontar especificamente o que é, mas consegue distrair um bocado do filme. Há momentos em que resulta, para criar um ambiente desconcertante, ou para enaltecer a absurdidade da cena, mas há outros em que apenas distrai do filme em si. Por outro lado, é tão absurdo que nos deixa num estado perpétuo de confusão, através de uma overdose de simbologia visual, convencendo-nos a ver o filme até ao final para pelo menos tentarmos fazer sentido às partes mais confusas.


Sorry To Bother You não é para todos, sendo uma obra que põe a sua mensagem na linha da frente, com a história, imagens e sons a servir diferentes funções para a transmitir. Se conseguirem ultrapassar as partes mais bizarras, encontrarão um filme que aborda os podres do capitalismo de uma forma clara e divertida. Se não, vai ser um filme que vos vai afastar com o seu sentido de humor bizarro e cinematografia absurda antes da segunda metade.


Filipe Melo

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