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Soul: Uma Obra de Arte Cheia de Alma

Atualizado: 16 de mar. de 2021



Existem tantas questões profundas que nos levam a procurar uma resposta. Uma busca que pode durar uma vida, ou até mais, para quem acredita na eternidade. “Soul” coloca perguntas como: “Quem sou eu?”, “O que faço aqui?”, “Qual é o meu propósito neste mundo?” e “O que é viver?” em cima da mesa. O filme não fornece respostas, e nem é suposto digo eu, pois se na vida já é difícil esclarecer interrogações que fazemos diariamente, só faria sentido o filme seguir o mesmo realismo. “Soul” compreende as questões humanas e aborda-as em vários momentos com e sem linguagem. Por vezes, palavras não chegam para espelhar o que mais sentimos ou ambicionamos na vida, são elementos que pertencem a algo não palpável nem visível, algo a que muitos designam por “a alma”.


Antes de me dedicar à narrativa, quero enaltecer que o visual geral do filme conquista automaticamente o espectador, com texturas e um jogo de iluminação bastante realistas. Para além disso, mistura o habitual 3D digital com o formato 2D, através da apresentação de diferentes personagens ao longo da história. A animação é claramente um ponto de destaque e juntamente com a narrativa cria-se um casamento perfeito.


O filme segue Joe, um músico de jazz que sonha em ter uma carreira de sucesso. Tudo pode mudar quando lhe fornecem a oportunidade de tocar numa banda. Contudo, Joe morre em consequência de uma queda e sua alma vai para o além, local que faz de passagem para as almas se dirigirem para o pós-vida. Assim de repente parece que vos dei um grande spoiler, mas é algo que no trailer é apresentado e aliás, é um acontecimento que marca os momentos iniciais do filme. Neste seguimento, Joe não desiste e faz de tudo para voltar ao seu corpo, de maneira a concretizar o seu sonho. No processo, Joe conhece uma personagem chamada “22” numa zona onde as almas novas devem completar os elementos da personalidade para depois terem direito a uma vida na Terra. O protagonista vê ali uma oportunidade única, até porque “22” é uma alma rebelde que não quer viver porque nunca conseguiu completar a sua personalidade. Estas almas novas possuem a ajuda de mentores, que são pessoas que faleceram na Terra. O caricato e até inteligentemente engenhoso por parte da Pixar, foi exibir mentores antigos da “22”, como por exemplo: Gandhi, Abraham Lincoln, Madre Teresa e Muhammad Ali. No fundo, esses momentos são petiscos de comédia que maquilham o filme com pormenores pontiagudos que poucas companhias de animação se lembram de fazer. Por fim, e para não dar spoilers denunciadores, acrescento apenas que após os protagonistas se conhecerem no além, embarcam numa jornada que engloba na sua essência as questões que enunciei no início.


Após a minha descrição geral do argumento, quero realçar que não se trata de uma história simples como alguns filmes da Pixar. Este, por sua vez, viaja por percursos diferentes, assumindo um caráter quase episódico onde cada segmento serve de mote para tecer uma questão diferente. Apesar de ser um filme infantil, é na minha ótica a história mais complexa e filosófica do estúdio, ainda mais que Inside Out e Coco. Aliás, seria interessante (mas impossível certamente) termos um filme que fosse a mistura dos três, devido a colocarem as nossas emoções ao rubro, isto porque Inside Out explora os sentimentos e sensações dentro da complexidade do cérebro humano, Coco aborda a saudade e as memórias afetivas, e Soul fecha esta “trilogia emotiva” com um teor mais maduro, refletindo sobre o sentido da vida e o que torna única toda a experiência na Terra.


Já devem ter percebido que se trata de um filme que pode exigir um lenço para limpar as lágrimas, pois “Soul” não perde a oportunidade de apostar em momentos que podem provavelmente levar ao choro de quem vê. Existe uma cena no final do miolo do filme que está ao nível da abertura de Up e do final de Toy Story 3, portanto preparem-se.

Outro ponto que merece reconhecimento é a música obviamente. Como se trata de um protagonista mergulhado no mundo do jazz, o filme soube incorporar a banda sonora com um toque extraordinário, até parece que a música se trata de uma personagem à parte para ser sincero. Como disse anteriormente, este filme aborda questões da alma, palavra que é a tradução do título inglês. Mas acaba por ter um duplo sentido, pois “soul” é um género musical que mistura gospel, blues e jazz. Este filme não se esquece deste detalhe como devem calcular, já que a música é sempre colocada em primeiro plano através do olhar de Joe. Nada escapa à Pixar, não é?


“Soul” é uma adição perfeita e estrondosa ao catálogo já impressionante da Pixar. É mais uma prova que o estúdio sabe produzir excelentes originais. Não me posso esquecer de mencionar a dinâmica divertida entre os dois protagonistas através das vozes de Jamie Foxx e Tina Fey, que passam muita veracidade às suas personagens. Este fator e todos os outros que analisei ao longo do texto permitem tornar “ Soul” num filme profundo, complexo e emocionante, que trabalha questões existenciais de uma forma bela e impactante. No fim, ficamos com um sentimento melancólico e com a máxima de vivermos a vida da melhor forma possível bem intrínseca na nossa alma.



Diogo Ribeiro

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