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South Park – O Filme: O que é que podemos dizer?



Antes que perca a vossa atenção, peço que se afastem de quaisquer ideias de que a série em que este filme se baseia é ofensiva e completamente idiota. Porque, e digo desde já, que se este filme se trata de uma sátira bastante inteligente e irei explicar porquê. E sim, também é ofensivo, mas isso permite a exerção de algo que o filme procura mostrar. As personagens são as habituais das primeiras temporadas da série, mas quem não viu a série, não fica impedido de aproveitar o filme. Além disso, trata-se de um musical animado destas personagens já conhecidas, e espero que isso aguce a curiosidade.


De uma forma sucinta, os quatro rapazes do costume, vão ao cinema ver o novo filme dos vulgares canadianos “Terrance e Phillip”, já conhecidos pelo seu programa de televisão com piadas ordinárias e de mau gosto que eles adoram. Durante o filme, eles são expostos a linguagem obscena a um volume explosivo e com bombas verbais a cada cinco segundos, absorvendo tudo aquilo que ouviram como algo natural e começam a praguejar a torto e a direito, algo que os mais velhos não acham muita piada e culpam o governo canadiano por ter produzido este filme. Antes de desenvolver mais um bocado, aqui já saltam alguns pontos importantes que os próprios canadianos do filme referem, que não seja permitido usar esta linguagem quando, primeiro se tratava de um filme para adultos que não era suposto crianças estarem a ver e segundo, quando na televisão e noutros meios seja apresentada violência que não se compara a praguejar. Além disso, a necessidade dos pais de protegerem os seus filhos relativamente a este assunto torna-se não numa verdadeira luta, mas sim numa necessidade de ser moralmente superior, culpando outros e não procurando ver as suas próprias falhas na forma como educam as crianças. Além disso, não permitir o uso de linguagem dita mais obscena trata-se de algo ridículo que ainda hoje os Estados Unidos parecem procurar fazer nos seus programas. Não acho que se deva recorrer a este tipo de linguagem quando existem tantas palavras diferentes e tantas formas distintas de dizer algo e exprimir ideias, no entanto, dizer que não se pode usar certas palavras é censura na forma mais pura e não só uma obstrução à liberdade artística mas também à liberdade de expressão. Outro exemplo desta palhaçada, é o facto de face à morte de Kenny, as mães nem sequer exprimirem qualquer tristeza quando irrompem descontroladamente pelas portas do hospital, apenas mostrando-se preocupadas com o facto de eles terem voltado a ver o filme. E não é como se “South Park – O Filme” não nos dissesse diretamente as suas ideias, por várias vezes as crianças e outras personagens afirmam estes conceitos, mas no meio de tantos eventos loucos e tantas piadas, estas ideias podem passar mais despercebidas. Além disso, as pessoas podem esquecer-se que estão a ver uma sátira, e que se acharem piada e simultaneamente sentirem que as coisas podem ser ofensivas e desrespeitosas e por isso sentirem alguma culpa ou raiva, recordem-se do objetivo da sátira que é mostrar o quão ridículo tudo pode ser. A sátira não existe só porque é divertido gozar com os outros, mas porque pode tornar-se numa crítica importante se conseguirmos mostrar que até os assuntos mais tabu podem ser reduzidos a algo insignificante, e não a algo que temos que evitar falar, e não, isto não é um incentivo à violência verbal, visto que existe uma coisa chamada bom senso para além do respeito ao próximo, todos conhecemos a expressão “a nossa liberdade acaba quando a dos outros começa”. Daí que colocar um chip no cérebro das crianças como reforço negativo das asneiras que dizem seja algo que possamos rir por ser tão idiótico, mas que nos deixa a pensar por se assemelhar a experiências feitas no passado (não tão avançadas tecnologicamente nem com o intuito de terminar o praguejar) e até a questionar aquilo que nós próprios queremos incutir nos outros.


É esta a ideia principal que os criadores da série tiveram em mente quando decidiram fazer o avanço para o cinema. Poderia ser apenas mais um episódio com maior duração, mas para quê fazer isso? É uma ideia mais interessante apontar o dedo às críticas que foram alvo durante toda série e mostrar o que elas querem realmente dizer. E não só isso, também pegam noutros assuntos como o racismo, machismo, violência, entre outras coisas sempre recheadas de humor a fim de que possam passar de uma maneira que não seja só um grito pela razão e pela vontade errónea de mostrar aos outros o que é certo e errado sem dar aso ao pensamento crítico nem como fazer isso da melhor forma.


Manuel Fernandes

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