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The Devil All The Time - Pessoas sem Esperança, Uma História Deprimente


Quando fiz a análise do trailer deste filme, e comecei a ver, pensei genuinamente que ia ver um filme de terror. Na verdade, ia começar uma longa viagem de duas horas a seguir várias pessoas miseráveis a serem espremidas de toda a esperança.


De facto, The Devil All The Time é um filme de choque, por assim dizer. É o retrato da vida de várias personagens no Sul dos Estados Unidos, cada uma com segredos próprios, que acabam por convergir da pior maneira possível. Temos Arvin Russell (Michael Banks Repeta como criança, Tom Holland como adulto), filho de Charlotte e Willard (Haley Bennett e Bill Skarsgard), um casal que acaba de forma trágica, Lenora Laferty (Eliza Scanlen), a irmã adotada religiosa de Arvin, cujos pais morrem à mão de um casal de assassinos em série, Carl e Sandy Henderson (Jason clarke e Riley Keough). Sandy por sua vez, é a irmã de Lee Bodecker (Sebastian Stan), o xerife da polícia local e corrupto até mais não. Por fim, temos o reverendo Preston Teargardin (Robert Pattinson), um pastor novo na comunidade rural de Coal Creek, West Virginia.

Podem parecer muitas personagens para se lembrarem, mas não se preocupem, porque as prestações em The Devil All The Time não deixam esquecer. Todo o elenco conseguiu conferir toda a dor, todas as falhas, toda a tristeza da situação delas, bem como todas as barbaridades que chegam a cometer para algum alívio. Realço aqui as prestações de Tom Holland e Robert Pattinson: o primeiro por conseguir interpretar um papel tão sério e mostrar que consegue fazer muito mais que o Homem-Aranha; o último por conseguir interpretar alguém tão desprezível com tanta convicção que só me apetece esmurrá-lo na cara cada vez que o vejo no ecrã.

Em cinematografia, os planos são lindos, pura e simplesmente. O cenário dos arvoredos no sul dos Estados Unidos, a estética de casas degradadas e pobres, a simbologia das igrejas e cruzes, tudo isso confere o típico estilo gótico, a melancolia e a depressão do mundo a dar um ar sombrio sobre toda a história. Por outro lado, a montagem em específico é um bocado caótico e inconsistente, especialmente no início, mas isso na verdade faz parte de um problema maior.


The Devil All The Time é um filme de choque. Não há nenhum mistério por desvendar, ou uma análise profunda sobre o que levou as personagens a serem assim. Apenas mostra tragédias, uma e outra vez, até ao filme acabar. Isto não seria mau por si só, atenção: a arte pode servir para chocar apenas, e o poder de uma boa tragédia pode levar a autorreflexões interessantes. Porém, e isto eu considero inaceitável, a presença constante do narrador ao longo da história não deixa fazer isso. O narrador explica todos os estados de espírito, todas as decisões feitas, todos os segredos do passado, e o espetador, roubado da oportunidade de chegar a essas explicações e reflexões, fica apenas a ver uma série de tragédias sem um momento de levidade.


Presumo que seja um problema na adaptação do livro para filme. Num livro, claro que é preciso dar essas explicações para podermos compreender as situações que vemos, mas num filme, um meio tão visual, basta mostrar a explicação. Se vemos, por exemplo, uma personagem a fazer compras, pegando numa maçã e depois numa pera, não precisamos de um narrador para explicar que a personagem mudou de ideias. É apenas redundante.


The Devil All The Time não é um filme para todos, e há momentos em que o tom opressivo e deprimente pode ser demasiado para certas pessoas. Mantenho, porém, a opinião de que o filme merece ser visto, nem que seja só pela prestação de Tom Holland e Robert Pattinson. Se for demasiado, mesmo assim, recomendo que façam uma pausa quando sentem que é demais.

Filipe Melo

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