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The Man From Earth: Conceito que Garante Reflexões Complexas



“The Man from Earth” parece aquele tipo de filme scy-fi normal com muitos efeitos visuais, mas desenganem-se e não acreditem que a capa é fiel ao espelhar essa premissa, isto porque a narrativa transforma completamente essa ideia. O conceito é muito original e dele divergem análises muito interessantes e enriquecedoras numa conversa de amigos. Aliás, a ideia pode parecer complexa, mas acredito que todos já pensamos acerca disso de uma forma involuntária. Antes de me dedicar a esse ponto quero realçar que a história se passa num ambiente/local só, o que pode ser um obstáculo para alguns, portanto caso consigam ultrapassar essa dificuldade certamente mergulharão num mar de reflexões muito vasto.


Neste filme, em geral, o espectador não tem muita coisa para se identificar, senão apenas a ideia desenvolvida, que, obrigatoriamente, tem que se mostrar inovadora, e na verdade é. Pois bem, uma vez que esse risco é habilmente driblado, já se tem meio caminho andado para agradar o público, basta a narrativa manter um ritmo linear evolutivo no contexto do problema e história das personagens. E este longa metragem consegue tudo isso. Este tipo de filmes possuem essa peculiaridade de alternar com o público uma carga maior de adrenalina e tensão da trama, onde a possibilidade de envolvimento é bem maior. A exemplo, temos: Saw (2004), The Cube e Rear Window; muito ou pouco, as narrativas destes filmes fundamentam-se num local específico que geralmente serve apenas como pano de fundo para a história.



Em The Man from Earth, a história foca em John Oldman (David Lee Smith), um professor universitário, que está de malas prontas para mudar-se da cidade e largar o seu atual emprego. Para a sua despedida, convida os colegas professores para um encontro na sua casa. Numa noite qualquer, tudo não passaria de apenas um dia dedicado a uma singela confraternização se John não decidisse revelar um detalhe de sua vida para os demais: que possui 14.000 anos de idade. Uma vez feita essa revelação, o filme adota uma linha investigativa e desmembra-se com uma característica clara de entrevista.


Este tom de entrevista que o filme adota intercala duas necessidades básicas: responder às imediatas dúvidas dos demais colegas de John e as mesmas incertezas presentes nos espectadores. Com a justificação de que queria se mostrar transparente com os demais colegas antes de sua viagem de despedida, esse é o motivo que o impulsiona a revelar sua verdadeira identidade. John troca de cidade e amigos a cada dez anos, para que seus colegas não percebam a sua incapacidade de envelhecimento da pele.



Assim, as inúmeras explicações de Oldman (“homem velho”) revelam como ele viveu na pré-história, como se desenvolveu nos grupos primatas, como acompanhou a evolução da humanidade, a sua relação com os maiores pensadores e filósofos, as invenções humanas, a sua relação com familiares e a perda de todos aqueles pelos quais possuía admiração. Após estas repostas emergenciais, observa-se uma tendência de impor a dúvida ao espectador sobre todas as afirmações feitas pelo próprio, onde se começa a perceber os pontos de maior genialidade da trama. Seguindo uma iniciação explicativa científica sobre os fatos, os diálogos alteram-se e evoluem para um patamar religioso, que é obrigatório, diante da realidade revelada sobre John. Ele caracteriza, assim, sua relação com Buda, com as diversas religiões e o Cristianismo.


Outro ponto interessantíssimo do filme é a ambientação escolhida para o desenvolvimento narrativo de toda a história. Entre seus colegas professores, estão pessoas de nível profissional altíssimo, em diversas áreas: um arqueólogo, um biólogo, um psicólogo e uma religiosa devota ao Cristianismo. Essas pessoas representam um pouco da diversidade de estudos e pensamentos humanos que se direcionam a tentar explicar e entender um ponto em comum: a história e origem humana. Nesse sentido, o trabalho do desconhecido diretor Richard Schenkman consegue não ser tendencioso, algo que poderia comprometer em muito seu trabalho. A apresentação de suas ideias de cunho científico e religioso tentam unicamente observar e apontar para uma análise investigativa sobre a história humana, apresentando através das restantes personagens, a total incapacidade de uma conclusão real sobre esta condição. As características apontam para uma total ignorância e arrogância do homem em querer garantir que sua história se passou realmente como está documentada.


A característica mais importante dessa história é construir e desconstruir suas afirmações, mostrando a capacidade que temos de pensar conforme o meio e a sociedade ao nosso redor, formulando as nossas face a nessas análises já existentes e defendendo-as como imutáveis. O que o filme consegue fazer nesse sentido é surpreendente. John transforma o pensamento de veteranos estudiosos, torna-os condicionados ao SEU pensamento, e tem a ousadia de destruir toda a história contada em apenas poucos minutos, fator que acaba revelando a fragilidade de pensamento dos seres humanos.


Em suma, trata-se de um filme que não possui prestações incríveis, uma cinematografia ótima e uma banda sonora bem articulada. Nesses aspetos é bem mediano até. Contudo, o ponto forte do filme é o diálogo das personagens. Parece pouco, mas acreditem que todas as palavras proferidas vão colar qualquer ao ecrã. Uma hora e meia que irão proporcionar reflexões muito compactas e até úteis com a experiência permanente de nos colocarmos no lugar de cada uma das personagens.

Diogo Ribeiro

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