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The Room: Terrível ou Excelente?



Antes, “The Room” era conhecido nos circuitos do cinema de culto. Memorável pelas suas tiradas não intencionalmente cómicas, atuações ridículas, erros de continuidade, devo dizer mais? No entanto, as pessoas continuavam a ver este filme que tinha ganho um certo estatuto. Fiquei bastante surpreendido quando descobri que muitos dos meus colegas e amigos também o tinham visto. Isto, antes da estreia do divertido “Um Desastre de Artista”, baseado no livro biográfico de Greg Sestero, ator que interpreta a personagem de Mark em “The Room”, onde descreve a sua experiência na produção do filme. Um livro que Tommy Wiseau considerou ser um mau reconto do que se passou, no entanto, disse que o filme acertou em 99.9% na forma como as coisas decorreram (um filme baseado num livro que não está factualmente correto pode ser ele mesmo correto? Parece uma incongruência de Tommy Wiseau, um homem cuja vida é envolta em largo mistério). As pessoas adoram colocar este filme numa categoria descrita como “tão mau que é bom”. Mas será que é simplesmente… bom?


Parece haver uma larga noção de que um filme só será bom se mantiver uma estrutura narrativa em três atos, as atuações forem dramáticas (nem sempre as pessoas querem algo realista), as personagens criarem empatia em nós e houver uma flutuação de emoções na audiência. Porém, muitos dos grandes filmes da História provaram que estas convenções não são necessárias para a criação de uma grande obra artística. Apesar do trabalho de Tommy Wiseau ser inegavelmente uma tentativa em seguir todos estes passos, nunca consegue fazê-lo da melhor forma. Mas não é por isso que o filme é tão procurado? Porque tudo no filme é uma trapalhada. Tommy Wiseau mal consegue pronunciar bem as suas falas, todo o elenco parece estar constantemente perdido, sem saber o que as suas próprias personagens sentem ou sequer para onde olhar, e o argumento? “Eu não bati nela, não é verdade, é merda, eu não bati nela. Eu não o fiiiiiiiiiiiiiiz. Oh olá, Mark”. É completamente desnatural e bizarro, quase parece que estamos num ambiente surrealista ou que toda a gente acha normal falar daquela forma. Ou quando a personagem do Danny, que por alguma razão que nos escapa tem como melhores amigos um casal adulto bem mais velho, não consegue perceber que quando um casal está a ter um momento íntimo, que não quer que o seu amigo jovem entre pelo quarto e inicie uma luta de almofadas. E para não falar na obcecação de Tommy Wiseau em incluir pequenos jogos de futebol americano por todo o filme, talvez porque para ele seja a melhor forma de fortalecer laços de amizade, mas para todos os que estão a ver, parece só algo incluído porque desafia a lógica e a razão.


Em termos de argumento, procura seguir uma história simples e batida da decadência romântica. Johnny está tremendamente apaixonado pela sua noiva, Lisa. Ele é um homem bem-sucedido na vida, tem um bom emprego, uma casa agradável e bastantes amigos. Lisa, aparentemente, mantém um caso com Mark, o melhor amigo de Johnny (um aparte para referir o quão impessoais estas escolhas de nomes foram, não sei se por serem completamente banais ou por pedirem um apelido a acompanhá-los e não o terem). Lisa acaba por mentir e dizer que Johnny a agrediu e a partir daí desenvolve-se uma queda gigantesca pela decadência romântica que culmina com uma das mais hilariantes cenas de raiva vistas num filme. Parece que Tommy Wiseau apenas deixou a câmara a rolar enquanto destruía todos os objetos sem exceção, indo à procura até do mais pequeno item para poder acabar com ele. A premissa já é algo muito batido, mas mesmo narrativas do género conseguem dar origem a filmes originais e estimulantes. Mas “The Room” não é estimulante, é quase uma experiência surrealista e totalmente diferente de outros filmes. Há filmes inferiores a medíocres que seguem o mesmo caminho que “The Room”, mas esses têm interpretações completamente vulgares, ou abaixo disso, e o argumento é completamente insosso. Já “The Room” não falha em arrancar um riso pelo quão surreal é. Até parece que estamos noutro planeta.


Por isso, será mesmo um filme tão mau que acaba por ser bom? Ou é apenas bom? É certo que é terrível em todos os aspetos de realização, argumento, cenários, atuações, cinematografia, edição, blá, blá, blá… Mas a combinação do quão terríveis são faz transcender a noção do convencional e criar algo bastante original e surreal. Se me pedissem para fazer uma compilação de, por exemplo, os 500 melhores filmes da história, incluiria “The Room”? Absolutamente que não. Não se compara a muitos dos filmes que já foram feitos, quer sejam mais convencionais ou experimentais. Recomendá-lo a amigos, tremendo um bocado quando digo que é um bom filme? De certeza absoluta! Garanto que passarão um bocado que jamais irão esquecer. E só depois vejam “Um Desastre de Artista”, a minha experiência no segundo filme foi mais criativa por ter visto primeiro o trabalho original (apesar do filme de James Franco ser tendencioso e esforçar-se em simplificar as coisas, criando uma divisão em heróis e vilões, provavelmente como o livro de Greg Sestero fez, visto estarmos na perspetiva dele, não li o livro mas assumo pela reação de Tommy Wiseau, no entanto, o filme de James Franco vale a pena).


Manuel Fernandes


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