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The Shape of Water: Premiado pela experiência fílmica, não pela história


Vou ser claro nisto: considero que The Shape of Water mereceu o Óscar de melhor filme. Admito que tinha uma competição feroz nesse ano, com Three Billboards Outside Ebbing, Missouri e Call Me By Your Name, mas The Shape of Water tinha uma energia diferente, como se de um conto de fadas se tratasse.

Mas vamos por partes. The Shape of Water conta os eventos passados em Baltimore, Maryland, em 1962. Elisa Esposito (Sally Hawkins), é uma mulher muda, empregada pelo governo para limpar um laboratório secreto governamental. Com poucos amigos, Elisa sente-se sozinha, até que um dia o laboratório recebe uma criatura misteriosa (Doug Jones), capturada num rio na América do Sul. O governo quer dissecá-lo para obter alguma vantagem contra a União Soviética, mas, debaixo dos seus narizes, Elisa e a Criatura começam a aproximar-se e a criar uma relação de proximidade...


A história, eu admito, não é nada de mais. É muito fácil prever o que vai acontecer, o que por si não é mau, mas às vezes a narrativa parece telegrafar demasiado os acontecimentos seguintes. A história de Giles (Richard Jenkins) com o dono da loja de tartes é um exemplo grande disso.

Mas apesar disso, penso que o “pacote” em que a história está inserida é o grande elemento que salva o filme: a banda sonora incrível, saída de um conto de fadas; o trabalho de câmara, mostrando Elisa e a Criatura a aproximarem-se ao longo do filme; a construção do cenário em volta, cada detalhe meticulosamente pensado e planeado. Não sei quando é que me apercebi que o apartamento de Elisa contém rolos de filme do cinema em baixo, mas aquele detalhe tornou o mundo ligeiramente mais real.

Acho que é essa a principal força de Guillermo del Toro, na verdade. Ao longo do filme, todos os nossos heróis são isolados de alguma forma, por serem mudos, pertencerem a minorias, ou simplesmente por não se conformarem à rígida expectativa social de cada um nos anos 60. Del Toro conseguiu pegar nessa experiência de ser ostracizado e aplicou-lhe uma dose valente de fantasia, de romance e magia. O diretor admite, na verdade, que adora escrever histórias do ponto de vista dos monstros de terror, de trocar a perspetiva de “aquele monstro vai nos matar” para “porque é que estes monstros querem me fazer mal?”.

Não sei bem o que posso dizer mais. O filme agradou-me imenso, mas também sei que tem um público muito bem definido, e que ou se gosta do filme, ou não. É uma história de amor linda, sim, mas para quem não gosta de romances, podem ver o filme e ficarem incomodados com a ideia de uma mulher ter relações sexuais com um peixe. Ou podem adorar romances, e ficar incomodados com isso à mesma.


O importante é o seguinte: The Shape of Water é uma experiência visual e sonora bela, com a mensagem de haver algo mágico no dia-a-dia mundano, nas pequenas estranhezas e excentricidades das pessoas, que apenas querem estar em paz e serem amadas. Recomendo que vejam, porque é mesmo bonito.



Filipe Melo

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