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The Truman Show: A "realidade" perfeita de um homem que quer ser livre

Atualizado: 16 de nov. de 2020


Truman Burbank (Jim Carrey) tem uma vida idílica na pequena comunidade de Seahaven, que parece adorá-lo. Porém, há algo de estranho na sua vida. Um holofote cai do céu, com o nome de uma estrela, a rádio parece narrar os seus movimentos, e encontra um sem-abrigo igual ao seu desaparecido pai. Aliás, toda a sua vida, desde a sua mulher, ao seu melhor amigo, até a sua mãe, parecem artificiais. Porquê? Truman, sem saber, é o protagonista de The Truman Show, um reality show que acompanha a sua vida desde o seu nascimento e é transmitido globalmente, 24 horas por dia. Truman não sabe o quanto a sua vida é controlada e planeada, mas com o amontoar de acontecimentos estranhos, depressa irá descobrir a verdade do mundo que vive.


The Truman Show é talvez o antecessor ao fenómeno dos reality shows na televisão, usando técnicas de filmagem e elementos narrativos comumente associados ao género televisivo. Em iguais partes comédia e drama, o filme segue o desmoronamento da ilusão perfeita de Seahaven, à medida que os produtores e criadores tentam de tudo para mantê-la.


Seahaven foi criada para ser uma versão idealizada da realidade. A pequena cidade é perfeita em todos os aspetos, com uma estética baseada em postais dos anos 60 e publicidades de catálogo, criando um ar de perfeição exagerada. Neste seguimento, é com base nesse conceito que o nosso antagonista, Christof (Ed Harris), quer que Truman viva uma realidade longe de tudo aquilo que está de errado com o mundo, das dificuldades injustas que a vida nos atira. Há até coisas que desincentivam Truman de sair de Seahaven, como um cartaz com um avião a ser atingido por um raio numa agência de viagens. O nível absurdo de perfeição da comunidade resulta dado que o público sabe que Truman está preso num programa de televisão.


Aliás, esta ilusão é reforçada pela cinematografia do filme. A obra recorre frequentemente a planos de câmara estranhos, lentes olho-de-peixe e zooms de câmara para dar a ideia de câmaras escondidas, que gravam secretamente a vida de Truman. Até os atores ajudam na farsa: há vários momentos em que olham para a câmara, especialmente quando o nosso protagonista começa a forçar a mão dos seus controladores ao sair da sua rotina de formas cada vez mais deliberadas. À medida que a história avança, os planos transitam para um formato mais tradicional no cinema, representando a ilusão a cair.


Por falar nos atores, Jim Carrey carrega o filme às costas, sendo a única pessoa “real” neste mundo. A energia maníaca tradicional das suas prestações traduz-se perfeitamente para a paranoia e desespero de Truman em compreender a realidade que o envolve. Dada a premissa do filme, Truman é também a única pessoa pelo qual o público torce. As restantes personagens são secretamente atores, que dependem do sucesso do programa para poderem manter-se na ribalta. Laura Linney é excelente como Hannah, a atriz que desempenha o papel de Meryl, esposa de Truman. Há um ódio subjacente em todas as interações que tem com o seu “marido”, coberto por palavras doces, que é apenas quebrado quando ela própria está em perigo. Ed Harris também é um ótimo antagonista, representando perfeitamente o ideal de controlo, poso em oposição do desejo de liberdade de Truman. Enquanto que Truman é espontâneo e emocional, Christof é frio e controlado nas suas emoções.


Dentro do filme, o aparecimento periódico do público que vê o programa televisivo é um dos elementos mais interessantes do filme, espelhando a nossa reação ao ver o filme, especialmente no final. Funcionam como comentadores à parte, comentando aquilo que veem sem nunca interferirem, fazendo referências a eventos passados e a dar opiniões diferentes, dando um toque realista a todo o absurdo que o filme contém. Quantos de nós já não vimos reality shows com amigos e passámos o tempo a comentar a estupidez das pessoas que participam nela, sem parar de ver?


The Truman Show conseguiu misturar a perfeição absurda, as técnicas de gravação específicas de reality shows, e o ator perfeito para criar a história perfeita de alguém a enlouquecer quando descobre a realidade que o envolve. Uma narrativa de liberdade contra controlo, o filme toma o lado da liberdade, mostrando que, apesar dos males do mundo, Truman será sempre o homem gentil, bondoso e feliz que foi desde que a câmara começou a gravar.


Filipe Melo

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