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Tonie Erdmann: Sorri para a Vida!



Quando pensamos num país como a Alemanha, comédia poderá não ser a primeira coisa em que pensamos. Desenganem-se, pois Winfried Conradi, com o alter-ego de Toni Erdmann, é capaz de ser o alemão mais engraçado da História do cinema. Certamente o mais sorridente, este professor de música está sempre a fazer piadas e a brincar com tudo à sua volta. Na primeira cena em que o vemos, um carteiro vai a sua casa para entregar uma encomenda. Ele finge não saber o que passa e atribuiu tudo ao seu irmão, recluso recentemente libertado e que foi preso precisamente por colocar bombas nas encomendas. Mais uma piada a juntar às várias que ele vai largando nos primeiros minutos. Poder-se-á dizer que esta é a alma do filme.


Contrastando com este homem temos Ines Conradi, a sua filha. Ela é uma mulher de uma seriedade insofismável, e que pouco quer saber de brincadeiras inconsequentes. Parece a descrição de alguém completamente aborrecido e sem interesse algum de ter como protagonista, mas imaginem a sua vida como filha de Winfried e o quanto terá “sofrido” às mãos (ou dentes) do seu pai que via o mundo como uma brincadeira, quando se deseja ser alguém de sucesso. E uma pessoa bem-sucedida é uma boa descrição para Ines, que trabalha em altos postos da indústria petrolífera.


Quando ouvimos falar de pais e filhas, assumimos que haja grande cumplicidade entre ambos. Não parece ser o caso entre Winfried e Ines, cujos temperamentos chocam “violentamente” um contra o outro. Uma por levar a vida de uma forma bastante diligente com pouco espaço para viver, no sentido mais tradicional da palavra, e outro por tomá-la de uma maneira totalmente leviana. Uma cena muito engraçada no início do filme, funciona como uma excelente representação daquilo que pretendo dizer. Ao entrarem numa sala, em que muitos dos colegas de trabalho e potenciais colaboradores da empresa de Ines estão, Winfried decide colocar a sua fiel dentadura postiça, a sua muleta cómica. Ela lança-lhe um olhar de ferocidade tal que ele retira imediatamente a dentadura sem nada dizer.


A relação entre estas duas pessoas está completamente fraturada, e qualquer tentativa de reconciliação não é bem recebida. A forma de estar de ambos já provou não ser a ideal para que as tentativas de afeto do pai atinjam por completo a sua filha. Repetitivas e previsíveis, dão aso à discussão, tudo por causa de um passado para nós desconhecido, mas que para ambos estará bem presente. Ao longo do filme, vamos percebendo algumas das coisas que poderão ter provocado alguma animosidade entre estas duas pessoas que se encontram alienadas uma da outra. Elementos pequenos que gradualmente foram-se tornando nas pedras basilares de uma fundação destinada a ruir.


Aí é que entra o titular Toni Erdmann, uma personagem criada por Winfried que o poderá ajudar a reconciliar com a sua filha. Erdmann é extravagante, tem os dentes tortos, uma peruca quase ruiva que assenta mal à sua face e à sua barba esbranquiçada, e cheio de histórias excêntricas que deixam perplexos os seus ouvintes (não por ficarem impressionados com o conteúdo, mas por perceberem o ridículo de uma pessoa que parece querer ser levada a sério com historinhas de meia-tigela). Qualquer outra pessoa teria tentado este processo de outra forma qualquer, mas o brincalhão de todas as horas fê-lo à sua maneira. Colocou a sua máscara e vai tentar reconquistar a sua filha com sorrisos e piadas.


Ao longo das quase três horas de duração, vamos percebendo melhor quem é Ines, a filha que parecia perdida para Winfried. A perspetiva que ele tem dela vai-se alterando à medida que a vemos como a adulta que ele como pai nunca terá visto, e a forma como as famílias se adaptam às disrupções da sua unidade. Um excelente trabalho sobre a abordagem da vida com humor, e sendo meigo. Tal como Toni Erdmann diz “Nunca percas o humor!”

Manuel Fernandes

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