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Óscares 2020: duas notáveis ausências

Atualizado: 7 de fev. de 2020


A lista dos nomeados para os óscares já foi oficializada há algumas semanas, e a cerimónia está a breves dias de revelar os vencedores das 24 categorias, mas o tempo que passou não foi suficiente para aceitar certas ausências, bem como algumas presenças um tanto polémicas. 

Neste sentido, este texto é sobre esses filmes, porque em todos os anos há alegrias e desilusões, satisfações e amarguras, e toda uma coletânea de sentimentos e sensações opostas. E previamente a dedicar-me aos nomeados em si, não convém deixar passar em branco certos filmes, uma vez que os nomeados têm maior probabilidade de ficar na história, mesmo não ganhando nenhuma categoria, do que aqueles que não possuem essa regalia da nomeação, que têm maior probabilidade de ficarem nas páginas do esquecimento. Se bem que, os filmes que vou analisar ficarão no pensamento de muitos espectadores pela qualidade que possuem. 

Em último lugar, quero partilhar que poderia falar de muitos mais filmes, mas para ser mais sucinto escolhi apenas 2 filmes, um para categoria de melhor filme e outro para melhor filme de animação.

Melhor filme de animação: ausência de “Frozen II”

Qualquer sequência, seja de que filme for, traz nas costas um grande peso, que é tanto maior quanto maior for o compromisso de superar o anterior, e quanto maior forem as expectativas das pessoas. Já não existe o fator surpresa na sequela, da mesma maneira que existiu aquando a visualização do original, e ainda assim, de forma geral, espera-se sempre que a sequela consiga superar o seu antecedente, o que preenche com dificuldade a missão do segundo.

Neste caso, coloco no mesmo patamar ambos os filmes das irmãs Anna e Elsa. O maior ponto que utilizo para defender esta declaração, baseia-se no enriquecido argumento de Frozen II. Considero que o estúdio da Disney, ao redigir o guião do filme, decidiu criar uma história em frente, mas não esquecendo o passado das personagens. O primeiro filme deixou várias perguntas sem resposta, e as pessoas assumiam certos factos como banais e aceitavam a ausência de qualquer explicação lógica. Este filme preenche esses buracos, agarrando as personagens a questões que sobressaem do primeiro filme, focando a temática do filme no amadurecimento dos principais intervenientes da história.  

Neste sentido, achei bastante astuto a história retomar 6 anos após os acontecimentos de Frozen I, pois os protagonistas têm de ocupar níveis superiores no que toca ao crescimento pessoal. E este ponto é mais notório no Olaf, pois este encontra-se numa fase distinta da existência dele, e o seu amadurecimento é mais saliente em cenas que mostram a dinâmica entre as irmãs, no que toca ao facto de uma querer proteger a outra, ao mesmo tempo que nenhuma acha que deve ser protegida. Portanto, as bases do argumento residem nas seguintes linhas: o controlo de medos, a exclusão social, e a simples aceitação de que o passado não é imaculado e que pode vir sempre ao de cima. 

Tecnicamente, a utilização de excelentes efeitos visuais é marcante, há diferenças que se notam de longe na animação das personagens, basta colocar imagens de ambos os filmes lado a lado e comparar. O único ponto que desafina do filme é a musica original “Into the Unknow” que tem o claro objetivo de atingir o mesmo sucesso de “Let it go”, mas que de todo não obteve o mesmo impacto. Por estes motivos, concluo que, foi um erro não colocar um filme desta envergadura na lista de nomeados para melhor filme de animação.

Melhor filme: ausência de “The Lighthouse”

Sou defensor que este filme merecia um caminho mais amplo no que cabe à sua passagem nos cinemas mundiais, de forma a chegar a mais pessoas, pois acredito que não se vê filmes deste calibre todos os anos, diria mais até, por década deve existir apenas um filme com traços tão marcantes como este.

Se compararmos este filme a um cubo, e antes de mergulhar em todas a arestas fantásticas do filme, saliento que há um vértice que falta para atingir a perfeição. Essa ferida é puramente o argumento. Qualquer pessoa que veja o filme e queira resumir a história a um amigo, não necessita mais do que 15 palavras, e o amigo não ficará muito motivado a ver o filme certamente. Mas tudo o resto que o filme nos oferece, ofusca completamente o único defeito do filme. 

A primeira coisa que mais me marcou foram as prestações dos atores, e algo que digo vivamente é que os nomes deles deveriam estar entre os nomeados. Ambos oferecem performances bastante dinâmicas. William Dafoe mantem a sua personagem num nível elevado de brutalidade, frieza e loucura, do início ao fim. Por sua vez, Robert Pattinson, eleva gradualmente a loucura da sua personagem, sempre justificada pelos elementos da ação.

Com apenas duas personagens no filme, e para explicar a crescente sensação de loucura, o filme arma-se com outros alicerces. Em primeiro lugar, os complexos diálogos e monólogos, enriquecidos de um vocabulário tremendamente caro e incomum, repleto de provocações, insultos e mitos do mar, que incomodam qualquer pessoa que os oiça. Logo assim, a narrativa é repleta de violência e erotismo, e deixa constantemente o espectador na dúvida do que vai acontecer em cada cena entre as duas personagens, pois dentro da esfera de hipóteses suscitam as mais contraditórias: por vezes senti que eles se queriam matar e noutras senti que estavam a escassos centímetros de se beijar. Outro recurso valioso, para além do realismo do texto, é o poder estético da imagem. Esta encontra-se perfeitamente bem construída, ao ponto de tornar a natureza do filme numa terceira personagem, pois todos os seus elementos: mar, vento, gaivotas, etc, possuem um impacto visual e sonoro forte e cirúrgico. A escolha de utilizar o preto e branco foi bastante perspicaz, pois assim cada frame pinga beleza visual e combina com o caráter das personagens e com o terror psicadélico do filme.

Por fim, o pouco que retiro da história é que não vale a pena esquecermos quem somos e o que fizemos para fugir a problemas pessoais. Mas, em jeito de resumo, esta armadilha do argumento que poderia ser fatal visto que de forma crua são apenas duas personagens a enlouquecer, é cimentada pelas extraordinárias atuações, pelas palavras meticulosamente bem escritas e por uma cinematografia impecável que tornam este filme numas das experiências mais viscerais que tive. E, com todas as forças digo que ser apenas nomeado para melhor cinematografia sabe a muito pouco!!


Diogo Ribeiro


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