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20 Filmes dos Anos 40 (1940-1949)




Foi um período da História do cinema gravemente marcado por um acontecimento terrível, a II Guerra Mundial. Na sua grande maioria, os filmes da primeira metade focaram-se em contar histórias de valentia ou que tivessem impacto no pensamento geral, o chamado cinema de propaganda. A segunda metade pertencia a um mundo que não sabia como voltar à normalidade. Os destroços da Guerra inundavam as ruas e a mente das populações que não sabia como retornar à normalidade. Novos movimentos artísticos como o Neo-Realismo Italiano surgiram como resposta à “poluição” dos confrontos terríveis. Aqui estão 20 sugestões exibidas pela minha ordem pessoal de preferência. Quando disponíveis gratuitamente, serão incluídos links para que os possam ver (legendas em inglês, exceto quando indicado):


20. Casamento Escandaloso (1940)


É nos períodos de maior aflição que as comédias podem ter o maior impacto. Em “The Philadelphia Story”, George Cukor reuniu um elenco de excelência, do melhor que Hollywood alguma vez teve para oferecer com Katharine Hepburn a interpretar a rica e cobiçada Tracy Lord, uma mulher com um charme e beleza descomunal. Os seus atributos inegáveis tornaram-na no alvo de vários homens, entre os quais C. K. Dexter Haven (Cary Grant), o seu ex-marido, e Macaulay Connor (James Stewart), o repórter contratado para reportar o seu casamento para os tabloides. Um clássico cheio de momentos icónicos e que é capaz de fazer o coração das pessoas derreter com o seu belo encanto.


19. A Vida do Coronel Blimp (1943)


Era nos militares que as pessoas mais esperança depositavam e foi no Coronel Blimp que o duo Michael Powell e Emeric Pressburger criaram um filme inesquecível. Mais que um filme sobre feitos militares, é um filme sobre uma vida. Desde o início até aos seus últimos momentos, trata-se de um épico que reconta os momentos mais emocionantes de um homem simples, mas com muito para oferecer. Quer fosse a recontar a sua carreira profissional, quer fosse a explorar a sua vida privada, os dotes visuais/artísticos dos chamados “Arqueiros” estão num nível superior que nos dão acesso privilegiado à mente e às emoções deste dignificado militar.


18. Breve Encontro (1945)


Quando pensamos em David Lean, pensamos, normalmente, nos épicos “Lawrence da Arábia” ou “Doutor Jivago”. Foi com essas obras que ele brilhou. No entanto, as capacidades de David Lean eram notáveis também à pequena escala. “Breve Encontro” é um filme curto, mas certamente que não é curto em emoções. Uma mulher casada conhece um homem, numa estação de comboio. Parece o início de um filme imoral e desprovido de qualquer bem, porém, é uma história lindíssima sobre paixão, tentação e a vontade de fazer o correto contra a vontade de fazer aquilo que o nosso coração realmente deseja. Repito, não a luxúria, o coração.


Pode ser visto em (legendas em português): https://www.youtube.com/watch?v=PGQ6xBMLfeQ


17. O Arrependido (1947)


Não estaríamos a falar dos anos 40 se não houvesse referência ao cinema noir que teve o seu expoente máximo neste período. Tem todos os elementos que esperamos de uma história do género: um detetive privado, uma fuga incessante do passado e seus erros, uma femme fatale, ambiguidade moral, traições, corrupção e um crime por resolver. Ainda assim, destaca-se dos muitos outros noirs graças à realização brilhante de Jacques Tourner e à atuação sempre carismática de Robert Mitchum.


16. Quando os Sinos Dobram (1947)


Mais uma entrada da dupla dos “arqueiros” (Michael Powell e Emeric Pressburger), e desta vez exploram o pecado em “Black Narcissus”. Nos Himalaias, existe um convento cujas freiras vivem em isolamento do resto do mundo. Tentam fazer o bem e ajudar a população, mas as condições atmosféricas e a restrição social têm um impacto curioso nelas. Várias situações tornam ainda mais complicado o funcionamento mental destas mulheres, inclusive, a chegada de um atraente homem que provoca a tentação nelas. Para além de ser um conto moral, é um dos filmes com melhor cinematografia da História, apresentando imagens lindíssimas que ficam na mente dos que assistem.


Pode ser visto em (legendas em português): https://www.youtube.com/watch?v=jrZf7lZHNjU


15. O Quarto Mandamento (1942)


Após o sucesso e reconhecimento que o seu filme de estreia teve, Orson Welles trabalhou numa adaptação de “The Magnificent Ambersons”, vencedor do Pulitzer de 1918. Com ele, contava com Joseph Cotten para criar uma história deprimente de elementos da alta sociedade. Cheio de brilhantismos técnicos e visuais, para além de grandes atuações, Orson Welles estava preparado para mais uma fazer história. No entanto, enquanto Orson Welles estava no Brasil a trabalhar num documentário que pudesse ter impacto nas relações entre os dois países (e assim, impacto na Guerra), o Estúdio apoderou-se do seu trabalho e achando que era demasiado realista e depressivo, cortou muitas das sequências já feitas, filmou cenas novas e esmagou tudo na sala de montagem. Desde então, Orson Welles nunca mais teve poder de decisão final sobre os seus filmes. O que sobrevive não é a visão definitiva de Orson Welles, sendo ainda assim um filme brilhante e memorável. Resta imaginar o que ele teria feito se não houvesse intromissão.


14. A Bela e o Monstro (1946)


É uma das mais belas histórias de fantasia alguma vez contadas. Um conto sobre a beleza interior e sobre o preconceito, contado de uma forma criativa e artisticamente lindíssima. “A Bela e o Monstro” faz parte do repertório cinemático da maioria das pessoas, mas a versão de Jean Cocteau não é tão facilmente reconhecida como a versão da Disney.


Pode ser visto em: https://vimeo.com/426520567


13. As Vinhas da Ira (1940)


O romance de John Steinbeck é um vulto da história da literatura, e a melhor pessoa para adaptar ao cinema um conto americano foi, sem dúvida alguma, John Ford, o cineasta americano de excelência. “As Vinhas da Ira” conta a história das adversidades e infortúnios que vive uma família americana durante a Grande Depressão que assolou a economia mundial e as vidas de muitas pessoas que viveram em pobreza extrema. John Ford filmou de tal maneira que parece que estamos a olhar para as fotografias reais da época que evidenciavam bem a vida triste e os desafios diários que estas pessoas tiveram que passaram para conseguir sobreviver a cada dia que passava.


12. O Grande Ditador (1940)


Num ano em que os movimentos populistas e nacionalistas são crescentes em todo o mundo, não haverá melhor filme que a comédia satírica de Charles Chaplin. O discurso que ele dá no final do filme é mundialmente famoso, e mereceu o seu lugar no panteão dos monólogos do cinema. Charlot interpreta duas personagens, o ditador Hynkel da Tomania, e um pobre barbeiro judeu que vive constantemente ameaçado pela sua simples condição que é existir. Uma crítica afiada aos regimes europeus da época e uma sátira que mais do que nunca é relevante.


Pode ser visto em (legendas em português): https://www.youtube.com/watch?v=pHZ46sQkzqU


11. O Tesouro da Sierra Madre (1948)


Se há um realizador que consegue criar filmes de aventura de excelência, esse é John Huston. Humphrey Bogart interpreta Fred C. Dobbs, um americano que se junta a outro conterrâneo, Curtin (Tim Holt) para procurar ouro no México. Walter Huston, pai de John Husto, é o velho (e um pouco avariado) Howard, que os ajuda na sua demanda. É uma jornada intrépida contra imensos perigos, à procura de cumprir a promessa de encontrar o metal precioso, no caminho, vamos descendo pela psique destes homens, cuja mente se vai degradando aos poucos. O ouro tem esse efeito nos homens.


10. Primavera Tardia (1949)


Num país arrasado pela Guerra, Yasujirô Ozu conseguiu fazer uma das suas melhores obras, juntamente com os seus frequentes colaboradores, Chishû Ryû e Setsuko Hara que interpretam uma dupla de pai e filha respetivamente. O Japão era um país tremendamente tradicional, e na altura em que decorre, o casamento era algo bastante importante na sociedade e é o que está no cerne deste clássico japonês. “Primavera Tardia” explora as relações familiares, a capacidade de deixarmos os que amamos ser livres e criarem os seus próprios caminhos, mesmo que assim não possamos estar sempre com eles.



9. O Falcão de Malta (1941)


Humphrey Bogart nasceu para estes papéis e para trabalhar com John Huston. Foi o primeiro filme que fizeram e foi um sucesso que criou a lenda desta dupla. Um filme-noir que surpreendentemente é muito trabalhado à volta de diálogo e não ação, sobre a procura pelo artefacto de nome “O Falcão de Malta”. É o tipo de coisa de que os sonhos são feitos de, diria Samuel Spade, o protagonista deste filme recheado de coloridas personagens que mostram que realmente não há honra entre ladrões.


8. Os Sapatos Vermelhos (1948)


E mais uma vez, Michael Powell e Emeric Pressburger a dominarem o cinema deste período. “Os Sapatos Vermelhos” é um dos filmes mais bonitos alguma vez feitos. Com cores vibrantes, músicas sonantes e dança até mais não, encapsula várias histórias num filme. A um primeiro nível poderemos olhar para os atores, dançarinos, empresários que atuam no teatro, a um segundo nível poderemos olhar para as próprias atuações que por si só também são histórias que simbolizam na perfeição as personagens que fomos conhecendo no primeiro nível do filme. É um trabalho inesquecível e que pede para ser visto e revisto, pois, os nossos olhos vão pedir mais após a primeira visualização.



7. Pagos a Dobrar (1944)


Billy Wilder criou o noir definitivo e que melhor representa o género. Trata-se de uma história que, após este filme, foi recontada um milhão de vezes, no entanto, nada consegue bater o original. Um vendedor de seguros deixa-se seduzir pela mulher de um magnata e juntos decidem fazer o homicídio perfeito que dará à mulher, não só liberdade do marido, como também a tornará riquíssima. Desde os visuais espetaculares, com o trabalho memorável com as luzes, aos twists que se vão dando ao longo da narrativa e às atuações emocionantes, trata-se de um filme que deixa o coração a bater rapidamente e com vontade de rever.


6. Do Céu Caiu Uma Estrela (1946)


É talvez, o melhor filme de Natal alguma vez feito, um verdadeiro clássico do cinema. George Bailey é um homem que já não consegue lidar com a vida e sente que todos aqueles que ama estarão melhor se ele não existisse. Os pensamentos dele foram ouvidos e antes que ele pudesse pôr fim à sua vida, um anjo é enviado diretamente do Céu para lhe mostrar como seria o mundo se ele nunca tivesse existido. É um filme lindíssimo, muito emotivo que puxa pelas nossas lágrimas da melhor maneira, a de Frank Capra. Perfeito para a época natalícia e perfeito para quando nos sentimos em baixo e a achar que não temos lugar no mundo.


5. Os Rapazes da Geral (1945)


Um clássico francês e um desafiante filme em duas partes que transforma o mundo num teatro e as pessoas em atores que vagueiam pela vida em busca do amor e do seu lugar. Passa-se em Paris, na década de 30 do século XIX, e conta a história de uma cortesã e os quatro homens que por ela se apaixonaram, todos diferentes uns dos outros (um mimo, um ator, um criminoso e um aristocrata). Um filme sem dúvida desafiante pela sua duração e pelas ideias que procura explorar.


4. O Terceiro Homem (1949)


Um filme comummente e erroneamente atribuído a Orson Welles, que apesar de ter uma aparição memorável durante o filme, com o discurso brilhante sobre o mundo, os homens, o Renascimento e o relógio cuco, não foi o realizador. Esse feito pertence ao britânico Carol Reed que assim criou a sua obra-prima. Em Viena do pós-Guerra, Holly Martins (Joseph Cotten) tencionava encontrar-se com o seu amigo Harry Lyme (Orson Welles), descobrindo que na verdade, o seu amigo está morto. Martins acha isto tudo muito suspeito e decide ficar na cidade para investigar o homicídio. Tem vários elementos de um filme noir, com a sua cinematografia que se assemelha àquela do Expressionismo Alemão do cinema mudo, no entanto, acaba por se afastar bruscamente deste género com suas músicas aceleradas e jubilosas e uma narrativa que não é bem aquilo que inicialmente parece.


3. Ladrões de Bicicletas (1948)


O melhor representante do Neo-Realismo Italiano e talvez o filme mais triste da história. Vittorio De Sica decidiu contar histórias das pessoas mais desfavorecidas e cujo dia-a-dia era constantemente uma luta por comida. Na Itália do pós-Guerra, arranjar um emprego era algo terrivelmente complicado e quando se conseguia um, uma pessoa tinha de se agarrar a ele e fazer tudo por o conseguir manter. Antonio consegue um trabalho, mas que exige que ele tenha uma bicicleta para conseguir realizar as funções que lhe eram pedidas. Ele e a sua mulher, Maria, vendem os seus bens mais preciosos e conseguem comprar, no entanto, a bicicleta é roubada. O que se segue, junta Antonio e o seu pequeno filho, Bruno, numa viagem à procura da bicicleta, símbolo da única esperança que eles têm. Se este filme não vos destruir em lágrimas, é porque não têm coração.


Pode ser visto em (legendas em português): https://www.youtube.com/watch?v=Sodv58FRub8


2. Casablanca (1942)


“Here’s looking at you kid” e “We’ll always have Paris” são algumas das expressões famosas que nasceram em “Casablanca”. Humphrey Bogart interpreta a sua personagem mais famosa, aquela de Rick Blane, contracenando com a adorável Ilsa Lund de Ingrid Bergman, naquele que é um dos mais famosos romances do cinema, ou anti-romances. Um filme que simboliza a ação americana na II Guerra Mundial e que cria em Casablanca o mito de uma melhor vida, longe da destruição. Ainda bem que de todos os bares de todo o mundo, ela entrou neste. Sem isso, não teríamos assistido ao início de uma bela amizade.


1. O Mundo a Seus Pés (1941)


Existem filmes que têm uma reputação gigantesca que mesmo nunca tido sido vistos pelas audiências mais modernas, o seu nome é facilmente reconhecível. O título de melhor filme da História é normalmente atribuído a “Citizen Kane”, a estreia de Orson Welles como realizador e o único filme em que ele teve controlo total sobre a sua criação artística. É um título que faz mais mal faz do que bem porque torna tudo numa competição. Faz com que as pessoas procurem a razão pela qual não gostam deste filme e porque acham que “não é assim tão bom”. É fácil ficar desapontado ao ver “Citizen Kane”, eu confesso que da primeira vez que o vi que não entendi o seu brilhantismo. Mas é verdade que se trata de um filme brilhante, e opera com uma imensa subtileza. É inovador em imensos pormenores técnicos, desde o foco em profundidade, montagem, na maneira como captura as sombras, entre imensos outros aspetos. Mas é talvez a nível narrativo que brilha com mais força. Charles Foster Kane é um homem riquíssimo que vive num palácio gigantesco, quase isolado do resto do mundo. Neste mundo que é a mansão de Xanadu, mesmo antes de morrer, Kane diz “Rosebud”, uma palavra que aqueles próximos dele nunca o ouviram dizer. Repórteres de todo o lado procuram descobrir o significado desta palavra, quase como uma última maneira de conseguirem aproveitar do nome de Kane e vamos descobrindo quem realmente era este magnata. Orson Welles escreveu, protagonizou e realizou este filme com somente 25 anos, o resto é lenda.


Uma análise mais detalhada a este filme encontra-se em: https://underscop3.wixsite.com/meusite/post/citizen-kane-como-os-gigantes-caem


Ficam aqui 20 sugestões, espero que numa delas, o leitor encontre aquilo que melhor se adeque ao seu estilo e o possa ajudar a passar um belo serão, conhecendo mais do cinema no processo!


Manuel Fernandes

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